Ocorridos entre 2009 e 2019, os assédios prejudicaram várias funcionárias em centros de pesquisa e plataformas petrolíferas
Na segunda (3), a Petrobras criou um grupo de trabalho focado em incentivar e receber denúncias de assédio sexual na empresa. A medida surge após anos de relatos de abusos e ameaças por parte de funcionários homens contra as mulheres.
“Em um dos embarques, quando eu estava sozinha no alojamento feminino à noite, o telefone tocava e era uma pessoa gemendo na chamada. Eu acho que eles fazem isso para criar um ambiente de medo. É uma intimidação, e eu só desligava. Teve um dia em que ele ligou e disse: “eu sei que você está aí sozinha, talvez eu te faça uma visita”” – relatou uma das funcionárias, que não quis se identificar.
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A mulher contou que escolheu não denunciar o caso aos superiores por se sentir em minoria no local. Segundo ela, a maioria dos homens faziam pouco caso dos relatos e insinuavam que as mulheres provocavam tais atitudes.
“Os homens na época minimizavam a ocorrência e diziam que as mulheres “davam muito problema a bordo, mulher reclama demais”. Eu nunca me senti validada para relatar isso para a liderança, porque eu sentia que seria revitimizada. Então, eu não falei nada com chefe nenhum, mas dormia com uma chave de fenda debaixo do travesseiro” – finalizou a mesma funcionária.
A Petrobras recebeu comunicados que informavam sobre os casos de assédio, dando foco especial em três deles, ocorridos no Centro de Pesquisas (Cenpes) da Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. A empresa apenas demitiu Cristiano Medeiros de Souza, acusado pelos assédios. Precisou o Ministério Público do Rio (MP-RJ) para a empresa tomar alguma atitude, possivelmente evidenciando que os casos são acobertados pelo alto escalão.
Bárbara Bezerra, outra funcionária, também relatou casos próprios:
“Em 2019, eu estava embarcada e um homem ligou para o meu alojamento, se masturbando. Eu desliguei, ele ligou de novo. Perguntou se eu estava sozinha, querendo continuar a “conversa sensual”. Eu me deparei sozinha no alojamento, com a porta quebrada e aberta” – disse Bárbara.
“Fui relatar ao gerente o que tinha acontecido, e ele me perguntou: “Mas você está paquerando alguém? Você está dando mole para alguém?” Eu respondi que não, que isso aqui é um ambiente de trabalho” – finalizou a funcionária.
Ao pedir que a empresa rastreasse as ligações do assediador, o chefe disse que não haviam câmeras que pudessem identificar o suspeito. “Comecei a sentir medo, achei que ele podia me empurrar no mar ou em um tanque. Senti coisas que eu nunca senti antes no trabalho”, contou Bárbara.
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