Depois de um ano de 2017 em que Blumenau registrou o recorde de homicídios em mais de 20 anos, a cidade terminou 2018 com uma diminuição no número de assassinatos. Foram 30 casos registrados, 28,6% a menos do que a marca negativa de 2017, quando houve 42 casos de assassinatos. A estatística voltou ao patamar de 2016, quando o município também tinha computado 30 mortes violentas no período de 12 meses. Os dados são da Polícia Civil.
O delegado Rodrigo Raitez, que comandou a divisão de homicídios do final do ano passado até esta semana, defende que a diminuição ocorreu por causa de operações feitas pelas polícias Civil e Militar para combater facções criminosas. Esses grupos costumam ter ligação com homicídios em razão de divergências e disputa de território.
Raitez relembra que foram três grandes operações contra lideranças e integrantes do crime organizado em Blumenau ao longo do ano passado. A primeira delas foi em 19 de abril. Até aquele dia, segundo o delegado, a cidade já tinha registrado 15 homicídios – metade de todos os casos do ano. Somente o mês de abril teve sete assassinatos. Os outros 15 registros do ano ocorreram da metade de abril até dezembro, em um ritmo menor, com uma média de duas ocorrências por mês.
– Foi a primeira vez que tivemos operações focadas exclusivamente no crime organizado e, se essas prisões não tivessem sido feitas, com certeza teríamos superado o número de 42 homicídios de 2017, pela média que vinha acontecendo até abril – argumenta o delegado.
As prisões a que Raitez se refere foram resultado de investigações que envolveram mais de 100 pessoas. Dessas, 60 tiveram mandados de prisão por envolvimento com organização criminosa ou tráfico de drogas cumpridos ao longo de 2018. Somando as prisões em flagrante, o ano teve 163 pessoas presas pela Polícia Civil.
Na lista de 30 casos do último ano, 16 aparecem tendo como motivação o envolvimento com facções criminosas ou tráfico de drogas. Entre as motivações de outros casos aparecem um latrocínio, oito de desavenças e também duas mortes de suspeitos em confronto com policiais. Dois crimes ainda têm a motivação indefinida e outro foi classificado como caso passional.
– O trabalho da PM e da Polícia Civil, tanto individualmente, na prevenção por parte da PM e na investigação por parte da Polícia Civil, quanto em conjunto, na repressão, tem surtido efeito e contribuído para a diminuição desses homicídios. Os números, considerando o porte e a realidade de Blumenau, terceira maior cidade do Estado, são excelentes, positivos – destaca o comandante do 10º BPM, tenente-coronel Jefferson Schmidt.
Morte de mãe e filha segue em investigação
Dezenove casos já são considerados solucionados pela Polícia Civil – tiveram a autoria e a suposta motivação identificadas. Os outros 11 permanecem em fase de investigação. É o caso de um dos crimes que mais chamou a atenção dos blumenauenses no ano que passou: a morte de duas mulheres em uma casa no bairro Tribess.
A costureira Inês do Amaral, 57 anos, e a mestre de obras Franciele Will, 30, mãe e filha, foram mortas na noite de uma quarta-feira – Inês por estrangulamento e Franciele a facadas. A mãe morreu primeiro e foi encontrada em um quarto. A filha morreu na cozinha, com um corte no pescoço, e ainda portava a própria bolsa. O suspeito não roubou nada da casa. O filho e irmão das vítimas, Odair Will, foi quem encontrou os corpos.
O delegado Douglas Teixeira Barroco, que assumiu nesta semana a divisão de homicídios, explica que elucidar este crime será uma das prioridades da investigação deste ano.
– Temos gravações, informações, pessoas interrogadas e vamos continuar a investigação para esclarecer este crime – aponta Barroco.
O delegado Rodrigo Raitez avalia que o ano teve uma diminuição significativa e que, por ficar abaixo de 10 homicídios para cada 100 mil habitantes, taxa usada como referência em segurança pública, a estatística de assassinatos na cidade no ano passado fica menor até mesmo em relação a cidades menos populosas do que Blumenau.
– Alguns casos, como as desavenças ou uma briga no trânsito, fogem à prevenção porque não há como a polícia evitar que aconteça. Em outras áreas, como o tráfico ou o crime organizado, nossas ações conseguem surtir efeito para evitar que esse número cresça – aponta.
Ao longo do ano passado, a Polícia Civil também focou em apreensões: foram 34 quilos de maconha, 2,3 de cocaína, 2,4 de crack, 12 armas de fogo, um colete à prova de balas e 221 munições de diferentes calibres.
Assassinatos de quatro mulheres nas estatísticas
Outro crime que provocou comoção no ano passado em Blumenau foi o assassinato da artista visual Bianca Mayara Wachholz, 29 anos. Em julho, ela foi morta com um tiro no rosto disparado pelo ex-namorado. O caso ocorreu na casa da mãe de Bianca, onde ela estava morando.
O ex-namorado Éverton Balbinott de Souza, de 31 anos, foi preso preventivamente dias depois do crime. Ele foi indiciado por feminicídio (homicídio qualificado envolvendo violência doméstica) e invasão de domicílio, por ter invadido a residência para cometer o crime. As penas somadas podem chegar a 30 anos de cadeia.
Além de Bianca e da mãe e filha do bairro Tribess, uma quarta mulher integra a lista de 30 homicídios do ano em Blumenau. Ana Paula Weber saía de uma festa no bairro Itoupava Central quando foi atingida por quatro tiros. Neste caso, a Polícia Civil concluiu que a morte teria ligação com facções criminosas. Segundo a relação oficial, as outras 26 vítimas fatais foram homens.
Ainda assim, o delegado David Sarraf, da Delegacia de Proteção à Criança, Mulher, Adolesente e Idoso de Blumenau, (DPCAMI), afirma que o número menor de vítimas de homicídio do sexo feminino não significa redução na violência contra a mulher. Na avaliação dele, se por um lado a maior divulgação e combate à cultura do machismo provocam aumento em estatísticas de denúncia, por outro, há um crescimento na quantidade e na gravidade de ocorrências envolvendo mulheres, em especial desde o fim do ano passado.
– Em alguns casos, como uma tentativa de afogamento que ocorreu nesta segunda-feira, a tentativa só cessou porque houve a intervenção de terceiros, de homens que partiram para ajudar. Se não poderia chegar a um feminicídio. Por isso é importantíssima a participação de todo mundo para defender quem está vulnerável – argumenta o delegado.
Fonte: nsc/Por Jean Laurindo | Foto: Eduardo Cristofoli
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