Menos de quatro horas depois de o presidente Jair Bolsonaro (PSL) assinar em Brasília o decreto que flexibiliza regras para a posse de armas, o vigilante Cleiton* bateu à porta de uma loja de artigos de caça e pesca no Centro de Blumenau. Ele já desejava de comprar uma pistola por causa dos riscos e eventuais ameaças provocadas por causa da profissão. Nesta terça-feira, quando soube pela televisão da assinatura do decreto que busca deixar mais fácil a aquisição de armas para cidadãos comuns, decidiu ir até a loja para pesquisar valores e saber o que era preciso para conseguir a compra e o registro da arma.
O vigilante saiu do atendimento de pouco mais de 10 minutos com uma lista de documentos que eram necessários pela legislação antiga, mas o estabelecimento já informou as alterações do decreto desta terça, 15 de janeiro, como a maior facilidade para comprovar a efetiva necessidade.
– Arma para mim é ferramenta de trabalho. Tenho treinamento a cada dois anos, vários cursos. Com uma arma eu estou muito mais garantido. (Vai dar) o direito de dar uma resposta a um vagabundo – defendeu.
Ele é um dos clientes que frequentam a loja em uma pequena sala no subsolo de um ponto tradicional do ramo na cidade. O proprietário James Mischur diz não saber dimensionar o quanto, mas admite que o movimento aumentou desde outubro, quando Bolsonaro venceu a eleição presidencial. No local também funciona um clube de tiro, que ganhou aproximadamente 15 integrantes desde o final do ano passado.
– Quando saiu o resultado da eleição, no dia 28 de outubro, o meu celular já começou a tocar. Eu falei que tinha que esperar o cara assumir. No dia 1º de janeiro (dia da posse), voltaram a me procurar. Quem está interessado estava aguardando essa mudança para dar entrada na compra e no registro – explica.
O empresário vê com otimismo a mudança, não só porque o movimento na loja deve aumentar, mas porque, segundo ele, o decreto pode mudar uma impressão existente de que “todo mundo que trabalha com arma é bandido”.
Fatores como a relação com clubes de caça e tiro criam uma relação próxima de Blumenau com armas. Mas o decreto desta terça-feira atém-se apenas a mudanças em armas para o cidadão comum, reguladas pela Polícia Federal, e não ao tiro esportivo, cujas carabinas e pistolas são controladas pelo Exército. Por isso, o diretor de Tiro da Associação de Clubes de Caça e Tiro de Blumenau, Antônio de Andrade, acredita que a alteração desta terça-feira não terá reflexos para os frequentadores e praticantes de tiro – nem mesmo indiretos, como um possível aumento de interessados.
Quanto custa e o que é preciso para ter arma
Para ter uma arma é preciso apresentar documentos como identidade, carteira de trabalho, comprovante de residência e foto 3×4. A compra ainda exige uma avaliação psicológica e a comprovação de capacidade técnica com uso de arma de fogo, que envolve curso com instrutor de tiro. Há ainda a necessidade de outras declarações como de efetiva necessidade – que foi um dos alvos da mudança do decreto – um formulário e certidões negativas que confirmem que não há antecedentes na Justiça estadual, eleitoral, federal e militar. Em geral, as lojas costumam auxiliar os compradores no registro das armas junto à Polícia Federal. A arma só pode ser adquirida e retirada depois de ser registrada.
O quanto tudo isso custa? A avaliação psicológica é estimada em R$ 200 e o curso com instrutor de tiro costuma ter valor médio de R$ 250 na cidade. Há ainda uma guia de R$ 88 de impostos para a União para o registro. Os preços das armas em si podem variar, mas no estabelecimento de Blumenau consultado nesta terça o revólver custava a partir de R$ 3,2 mil e a pistola partia de R$ 4,5 mil.
Fonte: nsc/Por Jean Laurindo | Foto: Jean Laurindo
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