Documento menciona o ex-presidente mais de 600 vezes
O Supremo Tribunal Federal (STF), por decisão do ministro Alexandre de Moraes, retirou nesta terça-feira, 26, o sigilo de um relatório da Polícia Federal (PF) que detalha a tentativa de golpe de Estado no Brasil no final de 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro.
O documento, com 884 páginas, apresenta evidências de um plano golpista articulado por aliados do ex-presidente e cita Bolsonaro 643 vezes.
Além disso, revela o envolvimento direto de 37 pessoas, incluindo integrantes das Forças Armadas.
Apesar de liberar o relatório, Moraes manteve sob sigilo a delação premiada do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que teve papel central na trama.
A delação de Mauro Cid é considerada crucial para entender a amplitude do esquema, mas seus detalhes permanecem restritos para não comprometer as investigações em curso.
Minuta golpista e apoio militar
A minuta de um decreto golpista, encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, é uma das principais peças da investigação.
O documento pretendia anular as eleições de 2022, que consagraram Luiz Inácio Lula da Silva como presidente.
A Polícia Federal afirma que o decreto tinha o aval de Bolsonaro, mas não foi executado devido à resistência de membros do Alto Comando do Exército.
Entre os elementos mais preocupantes do relatório está a informação de que a Marinha, sob a liderança do almirante Almir Garnier, teria tanques prontos para serem mobilizados.
O arsenal estava preparado para uma eventual ação golpista, mas a falta de adesão do Exército e da Aeronáutica frustrou os conspiradores.
Segundo mensagens obtidas pela PF, o coronel Mauro Cid mencionou que o golpe militar de 1964 ocorreu sem assinaturas formais, sugerindo que a resistência de comandantes militares atuais era um obstáculo inesperado.
Envolvimento direto de Bolsonaro
De acordo com o relatório, Jair Bolsonaro não só tinha ciência das articulações como participou ativamente delas.
O ex-presidente esteve presente em reuniões estratégicas e usou lives para desacreditar o sistema eleitoral, promovendo falsas alegações de fraude nas urnas eletrônicas.
A PF aponta que Bolsonaro tentou angariar apoio das Forças Armadas para o golpe, realizando uma reunião em 7 de dezembro de 2022 com comandantes militares.
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Mesmo com essas movimentações, o plano foi abandonado quando os militares destruíram o decreto golpista para evitar seu uso.
A decisão do Alto Comando do Exército foi fundamental para preservar a ordem democrática.
Relatório liberado por Alexandre de Moraes causa reações políticas e pedido de anistia
Após a revelação do relatório, o senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, defendeu no Senado uma “anistia ampla, geral e irrestrita”.
Segundo ele, essa medida seria um passo necessário para pacificar o país e restabelecer o equilíbrio entre os Poderes.
A proposta gerou debates intensos entre aliados e críticos do governo anterior, reacendendo discussões sobre os limites da justiça e da reconciliação nacional.
O relatório da PF foi entregue ao STF na última quinta-feira (21) e agora será analisado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
O órgão ainda deve decidir se apresentará denúncias contra os indiciados. Integrantes da PGR indicaram que essa análise deve se estender até fevereiro de 2025 devido à complexidade do material e ao recesso de fim de ano.
Divisões nas Forças Armadas
As investigações também expuseram divergências entre os ramos das Forças Armadas. Enquanto a Marinha parecia alinhada com as ideias golpistas, o Exército e a Aeronáutica mantiveram uma posição contrária. Essa divisão foi determinante para frustrar os planos de ruptura democrática.
O relatório detalha que a destruição da minuta golpista foi uma decisão estratégica de oficiais do Exército, que temiam que sua existência pudesse legitimar uma ação antidemocrática.
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