Esta reportagem mexe em várias feridas. Por isso, escrevo com muita delicadeza e peço para que o leitor tenha o mesmo cuidado. Em vez de julgamentos, ofereça apoio, uma palavra de carinho, de esperança, de acolhimento.
Lembre-se de que há anos uma família sofre muito. E, principalmente, Mery, que arca com as consequências violentas das escolhas que fez na vida.
Meryenn Schmidt é uma timboense mãe de dois filhos que tem casa e família, mas vive atualmente em situação de rua.
É comum ver Mery andando no bairro das Nações, principalmente na região do Komprão e onde há um posto de combustíveis. Não é raro encontrá-la alterada, provavelmente sob efeito de álcool, drogas ou os dois.
Já ouvi em várias situações: “Mery precisa de ajuda”, como se existisse uma saída fácil.
Mesmo sem nunca ter conversado com ela, estou certa de que ela é a pessoa no mundo que mais gostaria que existisse um jeito simples de deixar o vício, talvez até voltar no tempo.
Deixar de usar drogas pesadas e álcool já tendo perdido tanto da vida é uma decisão que requer uma força de vontade impossível de medir o tamanho.
Há alguns dias, Mery entrou em uma conveniência para comprar bebida. Tirou o dinheiro para pagar, mas desistiu. Segundo a atendente, ela disse que como o dono tinha pedido que não entrasse mais ali, ela respeitaria. Mery deixou a bebida e saiu. Um pouco antes, avisou as meninas do comércio: “vou sumir por um tempo”.
O Misturebas News buscou saber o que aconteceu. Conversamos com familiares que preferem ficar no anonimato. Eles contaram que Mery pediu para ser internada e está em uma clínica em Ituporanga. Ainda que tenha passado diversas vezes por clínicas e hospitais, os parentes dizem que sempre acende uma esperança.
Mas o que aconteceu com Mery?
O que a reportagem apurou é que Mery buscou as drogas para fugir de traumas que teria sofrido ainda na infância. “Ela se perdeu no meio do caminho”, disse um familiar.
Segundo parentes, Mery teve muitas oportunidades que não aproveitou. Há quem a descreva como uma pessoa difícil de lidar.
A família diz que já tentou de tudo e não sabe mais o que fazer, um relato comum entre familiares de dependentes químicos.
“A gente quebra a cabeça pensando em qual seria a solução, mas não encontra e a verdade é que essa busca cansa”, desabafou um parente.
Em abril deste ano, a casa de Mery pegou fogo. Você pode ler mais sobre o incêndio aqui.
“Mery colhe o que plantou”
Este é um pensamento comum de quem não deixa de ter pena, mas também não tira a responsabilidade de Mery pelas próprias escolhas. Escolhas estas que a levaram para uma rotina de vulnerabilidade e violências. Há cinco anos, Mery sofreu uma pancada na cabeça e perdeu parte do cérebro. Ela chegou a postar a recuperação nas redes sociais.
Todos os dias faço o mesmo caminho e nele procuro por Mery, com certo medo de achar. Nós do Misturebas News esperamos que um dia ela leia essa reportagem e esteja bem para dar a sua versão da própria história.
Neste link famílias de dependentes químicos podem participar de reuniões e buscar apoio.
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