Em 2002, o Ministério do Trabalho reconheceu como ocupação profissional as/os profissionais do sexo, terminologia correta para designar quem oferece serviços sexuais em troca de dinheiro.
Em Timbó, o estabelecimento mais conhecido no ramo é o Night Club Kaskeiro, no bairro das Nações, em uma região sem asfalto conhecida como Cedrinho.
Pela primeira vez em quase uma década, a dona do local, Cláudia Bertoldi, abriu os portões para uma equipe de reportagem. O imóvel, bem espaçoso, é próprio. “Vendi casa, carro e financiei uma parte para ter esse negócio”, conta. Cláudia dá um perfil das mulheres que trabalham com ela. “Elas têm entre 19 e 40 anos, a maioria vem com a ideia de trabalhar um tempo para juntar dinheiro e ajudar os parentes”, conta. Sobre a estrutura ela diz “aqui elas têm quarto individual, alimentação e segurança para trabalhar. Nunca tivemos casos de agressão. Temos câmeras e um segurança para manter tudo em ordem”.
No Brasil, não é crime vender o próprio corpo. Também não é proibido manter um local que ofereça serviços sexuais, desde que as mulheres sejam livres para irem embora quando quiserem. Os estabelecimentos também não podem ter menores de idade nem pessoas em situação de vulnerabilidade.
A primeira vez que Beatriz da Costa bateu na porta do Kaskeiro tinha 16 anos.
“Ela chegou com uma identidade falsa, mas a gente logo conhece, mandei voltar depois dos 18”, diz Cláudia.
Hoje Bia, como é chamada, tem 24 anos e trabalha na parte administrativa da casa de shows. “Eu só pensava em ter dinheiro para ser livre”, afirma. Bia fez curso de vigilante e tem um segundo emprego.
Como existe muito preconceito, as profissionais do sexo preferem a discrição. Algumas estão no local sem o conhecimento da família.
“Minha mãe já é idosa, não pode descobrir o que faço para viver. Digo a ela que trabalho em uma loja”, afirmou uma mulher que não quis se identificar.
Cláudia diz que “as pessoas não fazem ideia dos bastidores, é um trabalho que não tem nada de fácil”.
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O Misturebas News conversou com uma paraense, de 37 anos, que faz serviços sexuais desde os 18 e chegou em Timbó há três meses. “Tenho dois filhos, uma menina de 18 e um menino de 19. Pago a faculdade dela e o curso de soldador para ele”, conta. A mulher diz ainda que “tive poucas oportunidades na vida, agora preciso continuar para garantir que eles nunca precisem fazer o que eu faço”.
Ela conta como foi revelar a ocupação profissional aos filhos. “Meu filho me julgou no início, depois entendeu. Minha filha disse que já desconfiava e aceitou bem”.
A mulher chora ao falar da infância. “A minha mãe me abandonou no orfanato ainda pequena, meu avô que me tirou de lá e me criou. Eu nunca vou abandonar meus filhos”, diz, emocionada. Sobre o futuro, diz que vai parar quando os filhos tiverem independência financeira.
“Meu sonho é voltar para casa e poder ficar tranquila com eles”, diz.
Apesar de reconhecida sob o ponto de vista jurídico, ainda falta regulamentação. Em todo o País, os profissionais do sexo (porque não é exclusivo das mulheres) estão sujeitos à diversas violências, como, por exemplo, atuar em locais com péssimas condições sanitárias, abusos por parte de clientes e dificuldade em penalizar os exploradores.
No ano passado, a Justiça obrigou um estabelecimento no interior de SP a assinar a carteira das profissionais do sexo. A decisão abre precedente para que aconteça o mesmo em outras partes do País.
Confira a entrevista completa abaixo:
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