Eletrodoméstico comum entre os imigrantes europeus, a primeira máquina de lavar brasileira surgiu apenas em 1951, com a invenção de Walter Mueller
Em 11 de Setembro de 1893, nascia Walter Mueller, em Santa Catarina. Dono de uma das maiores fábricas de eletrodomésticos da região, Mueller era filho de agricultores, mas sempre teve veia industrial.
Quando saiu da casa dos pais, no Alto Vale do Itajaí, para procurar emprego, Walter trabalhou com serviços de mecânica, ferraria e tornearia, além de dirigir caminhões. Foi apenas em 1949 que comprou uma ferraria em Timbó, cidade no interior de Santa Catarina, onde então se fixou e onde, até hoje, fica a tradicional fábrica da Mueller. Ele havia completado seus estudos apenas até a quarta série, mas tinha planos para a pequena fábrica de Timbó.
Na época, a ferraria fabricava carrocerias de caminhão e implementos agrícolas, mas a virada de chave para a indústria local veio de uma ideia de Walter e do seu investimento nesse promissor setor, o de eletrodomésticos.
Ele havia observado e lido em jornais que os imigrantes europeus que chegavam ao estado nessa época sentiam falta da oferta de eletrodomésticos com os quais estavam acostumados em seu continente, principalmente as lavadoras. Essa percepção o impulsionou a investir no setor e a então desenvolver o aparelho, o que resultou na fabricação da primeira máquina de lavar, feita de madeira.
Para que o desenvolvimento da máquina acontecesse, Walter teve ajuda de um marceneiro, e inspirou-se em modelos europeus que ele via em revistas estrangeiras, trazidas por viajantes que visitavam seus familiares e que tinham se mudado para território brasileiro.
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Na época, as viagens intercontinentais eram escassas, e por vezes, demoradas, o que tornou sua busca por materiais de inspiração tão longa – o projeto ficou pronto apenas em 1951, quando seu modelo pioneiro foi finalizado.
Ele era composto por um barril de madeira, um motor elétrico e engrenagens, e ficou conhecido como a Pioneira. E de fato, ela foi uma pioneira: a máquina por ele idealizada tornou-se a primeira lavadora produzida e criada no Brasil, e, apesar de vender apenas 3 unidades no primeiro ano, com o tempo, começou a chamar a atenção e ter um volume de pedidos que fez com que Walter decidisse focar as forças de sua produção apenas no eletrodoméstico.
A Pioneira acabou sendo tão revolucionária que continuou sendo produzida até 1978, com a mudança apenas do material, passando da madeira à fibra de vidro. Ela também ganhou destaque na ExpoTimbó, cidade onde foi idealizada pelo industrialista, em 2019.
A visão industrial de Walter Mueller permitiu a expansão da fábrica e contribuiu muito para o crescimento da região de Timbó. Mueller considerava seu empreendimento como um negócio familiar – lema que a Mueller leva até hoje – e pregava valores de respeito entre empregados e empregadores. Ele foi responsável por instituir na empresa o chamado ”Seguro Particular”, que dava ao funcionário o direito ao seu salário integral, em caso de afastamento por doença, além do já instituído seguro por acidente, que tinha lei em vigor na época.
Com o sucesso, a Mueller, agora com novos integrantes em cargos executivos e muitos funcionários, investiu em inovação, lançando seu segundo modelo da máquina no final dos anos 70, sendo este lançamento seguido por muitos outros ao decorrer da década de 80, 90 e 2000.
Em 1970 o crescimento da empresa leva à novos cargos executivos.Hoje, o grupo Mueller está presente em diversos outros ramos, para além das lavadoras e até dos eletrodomésticos, contando com a produção de motores, condutores elétricos, fogões, etc., e tem lugar no panorama internacional – o grupo exporta seus produtos para América Latina, Ásia, Oceania e África.
Em 2011, Walter Mueller recebeu da Federação da Indústria do Estado de Santa Catarina (FIESC) um reconhecimento, devido às suas contribuições para a inovação e por seus feitos na indústria do estado: a Ordem do Mérito Industrial. O fundador da Mueller faleceu em 2015, na cidade onde fixou sua produção industrial, Timbó.
O grupo continua com a produção de seus eletrodomésticos, além da máquina, hoje contando com modelos mais modernos de lavadora lava e seca.
Imigração europeia
Grande parte dos imigrantes europeus que chegaram ao país e a Santa Catarina nas décadas quando Mueller desenvolveu sua invenção eram refugiados de guerra. Na época, a Segunda Guerra Mundial impôs condições difíceis para habitantes de muitos países europeus, o que impulsionou muitos a procurarem uma nova vida no Brasil.
Nesse contexto, muitos imigrantes alemães se fixaram na região do Vale do Itajaí, e fundaram cidades como Blumenau, Brusque e Joinville.
Na metade do século XX, com a ajuda de famílias empreendedoras como a de Mueller, e incentivos governamentais, o estado passou de agrícola para ter uma maior participação industrial. No início, os imigrantes construíram a cidade a partir da agricultura de subsistência.
Apesar de pequena, a cidade de Timbó ocupa hoje o posto de 14ª cidade em arrecadação no estado, muito devido ao esforço dessas famílias alemãs e italianas que se estabeleceram na região, e influencia Santa Catarina a ainda se destacar como uma região de importância econômica e industrial para o país.
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