Iracema Aparecida Freiberger provavelmente nunca usou drogas. Mas elas foram definitivas em sua vida e morte. A aposentada era descrita por amigos como uma mulher alegre, que ia aos bailes e gostava de jogar cacheta com os vizinhos. “Pensa em uma mulher gente boa”, disse um colega.
Na tarde da última terça-feira, 21, Iracema se foi. O neto buscou socorrer a avó, os vizinhos chamaram ajuda, os bombeiros tentaram reanimá-la. Tudo foi feito rápido, mas, mesmo assim, não havia mais tempo. A trajetória de Iracema se encerrou aos 61 anos. Um golpe de faca desferido pela própria filha levou Iracema.
Vizinhos contaram que a mulher de 36 anos que matou a mãe tinha um longo histórico de uso de drogas, com várias internações em clínicas de reabilitação. Recentemente, perdeu a guarda de um bebê, disseram. Após golpear Iracema, ela correu para a rua e bateu de casa em casa. Pediu que chamassem socorro.
“Eu esfaqueei minha mãe”, teria dito.
Horrorizados, os moradores da Rua Virgílio Dalpiaz, em Ascurra, ligaram para os bombeiros e para a polícia.
Ainda não se sabe o contexto que envolveu a morte de Iracema. A filha poderia estar no meio de uma alucinação, se defendendo de algum monstro imaginário. Ou em abstinência. Cansada, Iracema pode ter tentado impedir que a filha saísse para usar drogas. A abstinência do uso de drogas pesadas causa uma crise insuportável, dizem os médicos.
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São suposições. Ainda é cedo para entender a morte de Iracema. Talvez a gente nunca entenda. Fato é que as drogas que ela provavelmente nunca usou marcaram de forma definitiva sua vida. Iracema teve mais um filho que, segundo a família, morreu de overdose há pelo menos três anos.
Um filho morto pela droga. E outra filha, também usuária, que tirou sua vida. Este foi o triste destino de Iracema, que deixou uma marca de alegria em quem a conheceu.
Nas redes sociais, a filha foi chamada de “monstro”. É mais fácil imaginar assim, que ela é um monstro. Porque reconhecer a humanidade desta mulher significa aceitar que somos todos humanos. E que, dessa forma, também poderíamos ter a vida atravessada pelo uso de drogas pesadas. E sentir a dor de perder a guarda dos filhos. E acabar em um desfecho trágico olhando para as pessoas em choque e dizendo quase sem acreditar “eu esfaqueei minha mãe”.
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