Doutora em Reabilitação oral, Talita Dantas fala sobre o perigo das promessas de profissionais nas redes sociais
Atualmente, não é incomum encontrar profissionais nas redes sociais prometendo “mudar seu sorriso em quatro horas.” Essas propostas são feitas para vender as facetas de resina, uma opção de tratamento estético para os dentes. Aliás, é importante ressaltar que as facetas são anteriores à febre das lentes de contato dental, febre no mercado nos últimos anos.
A principal diferença entre elas, além do material, é o processo artesanal das facetas de resina. Enquanto as lentes são confeccionadas em laboratório, as facetas são feitas no consultório.
Portanto, por exigir habilidades técnicas do profissional, a cirurgiã dentista e doutora em Reabilitação Oral, Talita Dantas alerta para as promessas de tratamento rápido:
“Estamos vivendo o momento das resinas premium, de tratamentos feitos em três ou quatro horas e o paciente precisa ficar muito atento a esse e vários outros detalhes. Porque não podemos construir prédio sobre terreno em areia movediça. Então, antes de colocar facetas de resina, precisamos entender o que está por baixo. Além disso, a resina não pode ter contato com umidade, não pode ter excesso na gengiva e é preciso higienização adequada. Isso o paciente não vê nas redes sociais, mas a gente vê lá no consultório quando precisa remover tudo para refazer do zero”, explica Talita.
Segundo ela, o que aparece nas redes sociais são dentes extremamente brancos, até com a promessa falsa de película protetora e com gengivas totalmente inflamadas porque não houve cuidado técnico na hora de executar o tratamento com facetas de resina:
“Quatro horas talvez seja um período adequado para fazer algumas facetas, mas não conseguimos, nesse tempo, conversar com o paciente para saber seus desejos, fazer um planejamento detalhado, moldar as facetas e dar o acabamento ideal. Costumo dizer que resina não aceita desaforo. É um trabalho minucioso, então o paciente precisa ficar atento com o que está sendo negligenciado para ter esse tratamento rápido”, diz.
Principais diferenças entre facetas de resina e lente de contato de porcelana
A primeira e mais notável diferença está no material e técnica de execução. Isso porque, enquanto as lentes de contato dental são feitas de porcelana, as facetas podem ser porcelana, bem como de resina composta (polímero).
Além disso, as facetas de resina são feitas no consultório, diretamente na boca do paciente, muitas vezes sem preparo do dente, enquanto as de porcelana necessitam de um laboratório e do preparo dental.
Também é importante destacar que as lentes de resina são procedimentos menos invasivos. Como não exige moldagem para enviar ao laboratório, não é preciso desgaste para adequar o dente para receber uma peça. No entanto, cada caso é um caso e ausência de preparo e desgaste não significa sucesso, nem reversibilidade.
Ainda é possível perceber a diferença na estabilidade e cobertura de cor. As peças de porcelana têm estabilidade de cor e não sofrem com a ação de corantes ou ácidos e não sofrem pigmentação ou alteração. Já as resinas – por mais bem-acabadas, executadas e polidas –, são polímeros e estão sujeitas à ação da alimentação, corantes e ácidos, ou seja, elas podem ter cor e formato alterados.
A manutenção também é um fator importante e similar entre os dois tratamentos. Assim como qualquer pessoa precisa ir ao dentista a cada seis meses, ambos os tratamentos exigem frequência de manutenção.
É preciso lembrar que são próteses na boca e é preciso evitar comer unha, morder tampinha de caneta, comer osso de galinha, nada disso é recomendável (mesmos cuidados que é preciso ter com os dentes).
Por fim, é preciso levar em consideração o custo e tempo de produção. Tendo o laboratório como intermediário, o custo e tempo de produção da lente de porcelana são mais altos devido a todas as etapas de preparo, moldagem e cimentação.
Por outro lado, no caso das facetas de resina, existe a possibilidade de executar em poucas sessões, dependendo da quantidade de dentes.
“No entanto, transformar em disputa de quem faz em menos tempo é um prejuízo para o paciente”, alerta Talita.
Qual delas é melhor?
Segundo a especialista, depende das queixas, do perfil e da intenção do paciente.
“Quem é esse paciente? Ele é jovem sem nenhuma restauração nos dentes? Ou ele é uma pessoa mais velha que já teve várias intervenções? São dentes que precisam de desgaste ou não? A perspectiva é por um procedimento que nunca mais vai precisar trocar ou que dá para reparar facilmente se fraturar? É preciso levar tudo isso em conta. Teremos pacientes sem indicação para lente de porcelana – como os pacientes muito jovens e que não queremos fazer nada muito invasivo – e teremos o paciente sem indicação para lente de resina, que tem muitas restaurações profundas ou dentes extremamente escurecidos e que não tem muita higienização”, finaliza.
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