"Meu nariz sangrou e meus dentes chegou a trincar", relatou a ex
Agressões, socos e muito medo. Em resumo, essa era a rotina de uma das ex-companheira do homem suspeito de estuprar a menina Luna Bonett Gonçalves, no último dia 14 de abril, em Timbó. O crime teve repercussão nacional e chocou os moradores da pacata cidade do Médio Vale do Itajaí.
A mãe da menina, assim como o padrasto estão presos preventivamente. De acordo com as investigações da polícia civil, em depoimento, a mãe da menina relatou que a menor havia iniciado um relacionamento e também tido relações sexuais.
Por este motivo decidiu repreender a menina e acabou a agredindo. A mulher disse ainda que era ex-garota de programa e não queria que a filha seguisse o mesmo caminho.
Leia também: Mulher recebe medida protetiva após agressões do marido em Pomerode
Em seguida, a polícia revelou informações do laudo médico e da perícia realizada na casa onde morava a família. A autópsia mostrou que Luna tinha diversas lesões e contusões no crânio, baço, pulmão, alças intestinais e também lacerações na vagina.
Além disso, a menina também possuía uma série de lesões e contusões no rosto, pernas, braços e também na região torácica. No interior da residência, a perícia constatou que havia marcas de sangue próximo ao quarto da garota e também no sofá, em uma fronha e em uma calça masculina.
Quem era o padrasto de Luna?
Em depoimento exclusivo para o Misturebas, uma das ex-companheira de F.F., relatou como era a vida ao seu lado. Pedindo para não ter a identidade revelada, a mulher teve um relacionamento com F.F., de 2004 até 2007.
A mulher conta que tinha 18 anos na época, e que desde o início do relacionamento, era mantida trancada em casa.
“Eu vivia presa dentro de casa, no quarto. Não podia olhar pela janela, nem assistir TV”, explica.
Com o passar do tempo as crises de ciúme só aumentavam. Ele chegou a usar seu cachorro, um Rottweiler, para ameaçar a pessoa que dizia “amar”. “Por várias vezes ele disse que o cachorro era treinado para me matar. Ele fazia o cachorro ter raiva de mim, impedindo que eu conseguisse sair”.
Além da tortura psicológica, a vítima começou a ser agredida fisicamente, além de não poder receber visitas. “Teve um dia que minha irmã apareceu, fui abrir o portão e passamos a tarde conversando. Quando ele soube, me bateu muito, me espancou, e também bateu no cachorro. Ele não aceitava que o cachorro fosse meu amigo. Naquele dia o cachorro chegou a desmaiar de tanto que apanhou”, conta.
Controle total
Além de não poder ver ninguém, nem sair de casa, as únicas pessoas que podiam ter contato eram seu pai, irmão e demais familiares. Para ir ao médico, o ex-companheiro a acompanhava.
“Quando saímos, eu tinha que andar de cabeça baixa, não podia olhar para os lados, nem cumprimentar ninguém, senão apanhava quando chegávamos em casa”, explicou.
Com o passar do tempo, as sessões de tortura foram ficando cada vez mais graves e sádicas. “Uma vez ele me amarrou na nossa cama, amarrou os pés e mãos. Botou uma toalha em minha boca para que eu não pudesse gritar e começou a fazer cortes com uma faca no meu corpo. Pensei que iria morrer”, relatou a ex-companheira ao Portal Misturebas. Para ninguém ouvir seus gritos, ele ligava o aparelho de som no volume máximo.
Por diversas vezes a mulher era acordada com chutes e matas-leões. Ela conta que chegou a desmaiar em diversas oportunidades. Não entendia o que motivava F.F em agir desse modo, já que nunca deu motivos para as agressões.
Mãe tinha medo do filho
Além da companheira, a mãe de F.F tinha medo do filho. “Consegui escapar 17 vezes e pedir ajuda para minha ex-sogra que trabalhava perto. Ela cuidava de mim, mas não podia fazer muito, pois tinha medo do filho. Ele gritava muito com ela”.
Dessa maneira, para evitar que a família dele desconfiasse, a mulher chegou a apanhar nos lugares mais inusitados.
“A noite, íamos andar, e ele me levava para apanhar em locais desertos, dentro do carro e até no cemitério. Por várias vezes ele ameaçou me cegar, para evitar que eu olhasse para os lados”.
Ela tinha cada vez menos contato com a família. Por conta dos hematomas, ela evitava o contato. “Várias vezes ele dizia que mataria meu pai e irmão. Ele sempre saía com duas facas em uma bolsa. Se eu não fosse na hora que ele chamava, apanhava”, explica.
“Ele tinha raiva de mulher”
Para a vítima, F.F, não gostava de mulheres, parecia que ele tinha raiva delas. Ela relata que diversas vezes tinha que usar roupas de homem. “Usava roupas dele, camisas e casacos. Se eu tirasse apanhava em casa. Ele quebrou meu nariz e trincou os meus dentes”.
Ela chegou a fazer vários boletins de ocorrência, mas ele a persuadiu a tirar a queixa. Como sempre, com ameaças.
Por fim, o desejo da mulher é que ele pague o que fez com a menina Luna, e indiretamente o que ela passou durante o tempo em que se relacionou com esse sujeito.
“Nunca esquecerei aqueles anos”, finaliza.
Sugestão de pauta