Documento assinado pelo prefeito estende a todos os órgãos da prefeitura limites na aquisição de produtos ultraprocessados desde o início deste ano
Refrigerantes, bolachas recheadas, salgadinhos, pipocas e outras dezenas de alimentos industrializados não farão parte do contexto de reuniões e eventos em Pomerode a partir deste ano.
Isso porque um decreto assinado pelo prefeito Ércio Kriek (DEM) e publicado no Diário Oficial dos Municípios na última sexta-feira impõe uma série de restrições para a compra de produtos do gênero alimentício na cidade.
Além disso, o documento determina a redução de, no mínimo 50% de açúcar nas compras feitas por cada pasta.
O decreto vale não apenas para a merenda escolar e estende aos adultos algumas medidas que têm o objetivo de incentivar uma alimentação mais saudável.
A determinação é de que Pomerode zere a compra de açúcar a partir do ano que vem.
Além de salgadinhos e refrigerantes, o documento ainda aponta outros itens que passam a ser proibidos nas esferas municipais: sucos artificiais, bebidas com aditivos alimentares sintéticos, adoçantes, wafer, salgados e doces fritos, massas folheadas, empanados, cachorro-quente, barras de cereais e margarina (além de outros cremes vegetais) estão vetados.
Outra imposição é de que qualquer evento em que houver oferta de refeição precisará ter duas variedades de frutas da época.
Kriek afirma que a ideia surgiu no segundo semestre do ano passado, em uma proposta que partiu dos nutricionistas que trabalham na administração municipal.
A alegação do prefeito é de que não adianta o município orientar secretarias como a de Saúde e de Educação a promoverem boas práticas alimentares com os cidadãos e, ao mesmo tempo, agir de forma contrária em eventos organizados pela própria prefeitura.
Isso significa que em qualquer coquetel organizado pelo Executivo em 2019 o decreto terá de ser respeitado, com redução no consumo de açúcar e exclusão do gasosão e outros produtos da mesa. O objetivo é que empresas da cidade também venham a aderir à ideia.
– Vai ser um pouco difícil colocar em prática. É só olhar para Pomerode: quanto bolo, quanta torta, quanta cuca. Mas é uma questão de hábito. Se vier aqui na prefeitura hoje, o cafezinho será sem açúcar. Sabemos que será complicado, mas com certeza no futuro as pessoas vão nos agradecer por essa iniciativa – explica o prefeito Ércio Kriek.
Nutricionistas elogiam medida da prefeitura
O decreto proíbe a compra de dezenas de alimentos industrializados pela prefeitura de Pomerode é comemorado por profissionais da área da saúde. Três nutricionistas ouvidas pela reportagem se disseram surpresas com o documento e avaliam que o exemplo precisa ser seguido por outros municípios no Estado.
Na opinião de Camila Almeida, nutricionista e professora da Furb, as pessoas cada vez mais buscam os industrializados como forma de saciar a fome na correria do dia a dia. Frear um pouco esse ímpeto pelo ágil ao invés do que é saudável é o essencial dessa ideia da prefeitura.
– Falamos muito de alimentação escolar, de crianças, mas os pequenos não buscam os alimentos sozinhos. São os adultos que ensinam, que têm as coisas em casa. A educação precisa começar com os adultos e mostrar que é possível, sim, ser mais saudável. Quando se começa a mudar esses hábitos no trabalho e com os amigos, acaba levando isso para dentro de casa também – defende.
A nutricionista Luana Effting argumenta que, embora seja uma iniciativa inédita no Vale do Itajaí, é dever do poder público assegurar esse tipo de ação:
– O local de trabalho é onde normalmente passamos a maior parte do nosso dia, e o fato de ter fácil acesso aos alimentos industrializados induz as pessoas a consumi-los. Medidas como essa podem influenciar em uma mudança de comportamento em relação à alimentação.
Para Joanna Sievers, professora da Univali e nutricionista, é preciso levar em conta o fator cultural da cidade, mostrando às pessoas que deixar de comer alimentos que têm ligação com o passado não é um problema, e sim um novo hábito.
– A região de Pomerode é alemã, e por lá existe o hábito de consumir muitos doces como cucas e sobremesas. Essas mudanças buscam a promoção de novos costumes, não querendo mudar a cultura alimentar das pessoas. É possível fazer escolhas mais saudáveis sem deixar de lado o que chamamos de alimentos afetivos, que têm ligação com as memórias da infância – explica Joanna.
O decreto passou a valer desde 1º de janeiro. Conforme o prefeito Ércio Kriek, a ideia já foi apresentada para outros prefeitos da Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (Ammvi).
O objetivo é ampliar a proposta e fazer com que outras cidades também comprem essa briga por uma alimentação mais saudável.
Fonte: NSC | Fotos: Leo Laps
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