Valor devido faz com que unidade de saúde enfrente “a pior crise da história”, de acordo com a prefeitura
A dívida total do Hospital Beatriz Ramos, em Indaial, chegou a R$ 17,6 milhões no primeiro trimestre deste ano.
O número foi confirmado pela prefeitura na manhã de ontem, quando o Executivo apresentou o balanço de uma auditoria feita na unidade de saúde.
Os débitos são, principalmente, com fornecedores, ex-funcionários, impostos e de ações trabalhistas. De acordo com o prefeito André Moser (PSDB), isso faz com que o hospital viva “a pior crise da história” e fique à beira do colapso financeiro.
A prefeitura aponta dois motivos para o problema enfrentando pelo hospital: a queda no faturamento em procedimentos clínicos e cirúrgicos e a taxa de mortalidade de pacientes.
Só para se ter ideia, em 2012 foram feitas 1.290 cirurgias, número que caiu para 924 em 2018 – menos 28,3%. Já os exames e outros procedimentos clínicos diminuíram de 1.806 sete anos atrás, para 1.022 no ano passado – redução de 43,4%. O total de internações no Beatriz Ramos também caiu: foi de 3.210 em 2017 para 2.024 em 2018.
De acordo com a prefeitura, isso fez com que o hospital perdesse receita e passasse a viver basicamente de auxílios e subvenções do governo municipal.
A taxa de mortalidade a cada 1 mil pacientes também aumentou de forma significativa nos dois últimos anos. Para o município, isso fez com que o Hospital Beatriz Ramos perdesse a credibilidade e, como consequência, demanda. O índice passou de 2,2 em 2016 para 3 em 2017. Já no ano passado, alcançou a marca negativa de 4,06. Na avaliação da prefeitura, esse foi “um dos principais motivos para a intervenção”.
Esses problemas trazem, mensalmente, um prejuízo que beira os R$ 200 mil. Só nos primeiros três meses do ano o acumulado de déficit do Hospital Beatriz Ramos chegou à marca de R$ 592 mil. Some isso ao fato de a unidade enfrentar a diminuição na taxa de ocupação dos leitos – no ano passado, em média, apenas 34,4% dos quartos estavam ocupados – e é possível entender os fatores que, multiplicados, apontam o resultado negativo para a unidade.
– Uma das causas dessa grande dívida foi a fuga dos procedimentos. Os hospitais da região começaram a oferecer mais qualidade no atendimento, e os médicos e pacientes passaram a escolhê-los para fazer os procedimentos. Temos um grande hotel, que é pouco utilizado, e que tem uma estrutura cara para manter – compara o prefeito André Moser.
Primeiro passo é estancar prejuízo
Com esse diagnóstico em mãos, a prefeitura de Indaial aposta em duas saídas a curto prazo para tentar estancar os males enfrentados pelo Hospital Beatriz Ramos. O primeiro passo, segundo Moser, já está sendo feito.
De acordo com o prefeito, todos os encargos sociais e trabalhistas dos funcionários estão sendo pagos em dia, o que evita um acúmulo de dívidas. O município ainda tem a meta de zerar o prejuízo mensal até o fim do ano, para aí sim dar fôlego à unidade para retomar o crescimento no faturamento.
– O estancamento do déficit financeiro é o nosso principal objetivo nesse momento. Faremos isso com redução de despesas, busca por novos procedimentos. Nosso objetivo é zerar esse déficit mensal para, aí sim, começar a negociar as demais dívidas – explica o prefeito de Indaial.
Para aliviar os problemas do Beatriz Ramos, a interventora da unidade, Adriane Ferrari, aponta 14 metas.
Destaque para a diminuição da ociosidade no centro cirúrgico às quartas, quintas e sextas-feiras; a revisão do processo de trabalho no centro cirúrgico; redução do tempo de espera no pronto-socorro; aumentar o faturamento com convênios particulares; criar um sistema mais eficiente do controle de entrada e saída de medicamentos, para evitar prejuízos; revisão de contratos com médicos e de aluguéis de consultório, entre outras questões técnicas que envolvem sistemas hospitalares.
Entenda o caso
Em 18 de março deste ano, o Hospital Beatriz Ramos passou por uma intervenção da prefeitura e deixou de ser gerido pela Associação Beneficente HBR.
A ação foi motivada depois que a Justiça Federal determinou a leilão do prédio onde funciona a unidade hospitalar como forma de garantir o pagamento de uma dívida tributária que chegava a R$ 1,7 milhão – R$ 950 mil de INSS e R$ 795 mil de Imposto de Renda, PIS, Cofins, entre outros.
No início de março o leilão foi suspenso e a prefeitura trabalha para renegociar essa dívida e pagá-la de forma parcelada. Ontem, durante entrevista coletiva, André Moser se mostrou otimista e disse que “a questão do leilão já é uma página virada”.
Contraponto
O diretor-presidente da Associação Beneficente Hospital Beatriz Ramos, Edson Milbratz, disse à reportagem que “a maior parte da dívida é resultado dos serviços realizados além dos contratados pelo município e que não foram pagos”.
Milbratz mostrou documentos que apontam que o hospital deixou de receber da prefeitura R$ 1,933 milhão em 2016, 2017 e até setembro de 2018 referentes a serviços excedentes aos contratados pelo Executivo municipal.
O diretor-presidente disse ainda que “o desequilíbrio entre o realizado e o recebido vem de longa data” e garantiu que “o índice de mortalidade não condiz com o que realmente ocorreu no Hospital Beatriz Ramos”.
Os números que envolvem o Hospital Beatriz Ramos
R$ 17,6 milhões
É a dívida acumulada que o hospital tem.
R$ 592 mil
É o prejuízo que a unidade teve nos três primeiros meses de 2019.
34,5%
Foi a taxa de ocupação média, em 2018, dos 114 leitos do hospital.
Fonte: NSC | Foto: Divulgação
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