Elas estão cada vez mais presentes, seja nas grandes cidades ou no interior. As bicicletas vêm se consolidando de maneira expressiva nos últimos anos em todo o Brasil. Prova disso, é que em 2018 a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) registrou um aumento de 15,9% na produção de bicicletas. São pelo menos 100 mil unidades a mais em relação ao ano anterior.
Em Blumenau, é fácil se deparar com as magrelas disputando espaço em meio aos carros no trânsito ou, nos finais de semana, movimentando as ruas da região central. Cenas que são reflexo de uma mudança na mentalidade dos blumenauenses em relação às bikes, que até então eram consideradas um objeto para o lazer ou até mesmo um brinquedo para a criançada.
A indústria da bicicleta na cidade segue o ritmo das pedaladas. Apenas no ano passado, a Mormaii Bikes, empresa instalada na região Norte de Blumenau, chegou a contratar 80 novos funcionários no segundo semestre para suprir a demanda. De acordo com o diretor da empresa, Vanderley Schappo, a expansão do mercado, especialmente na cidade, se dá porque o consumidor tem a mentalidade aberta quando o assunto é pedalar.
– O público em Blumenau é de primeiro mundo. Começou a perceber que a bicicleta não é mais apenas um meio de transporte ou uma diversão, já se tornou um estilo de vida. Isso, claro, puxa a maior quantidade de vendas. O comportamento deveria ser exemplo para todo o Brasil – avalia Schappo.
A mudança de comportamento ficou mais evidente quando a empresa registrou o melhor mês em vendas em maio do ano passado, em meio à greve dos caminhoneiros que paralisou o país. De acordo com o diretor, vários clientes que compraram as bicicletas continuaram a utilizá-las como meio de transporte e até lazer depois que tudo se estabilizou.
– A bicicleta é um meio que vai muito além do que se pode imaginar. Ela traz lembranças da infância e é sempre uma opção de presente para todas as idades, pois protagoniza diversos momentos marcantes em família. E isso, lógico, é bom para a indústria. Hoje quando as pessoas chegam na loja para comprar, já não levam mais apenas uma unidade, elas já compram bicicleta para a família toda – afirma o empresário.
Esse novo estilo de vida também já é sentido pela Associação Blumenauense pró-Ciclovias (ABC Ciclovias), entidade que faz o trabalho de conscientização e luta pelo aumento de ciclovias na cidade. Segundo o coordenador-geral da ABC Ciclovias, Giovani Seibel, a bicicleta pode trazer a solução para um problema já enfrentado por Blumenau: a “imobilidade urbana”.
– Mas para isso é preciso que as obras aqui na cidade já sejam projetadas contemplando a mobilidade e segurança dos ciclistas – avalia Seibel.
Na visão dele, a conscientização das pessoas em usar mais a bike é algo que apenas precisa ser iniciado. Ele afirma que as empresas fabricantes e lojas podem ampliar o crédito e as condições para a aquisição do meio de transporte. Além disso, empresários podem somar ganhos em relação ao desempenho dos funcionários. Seibel argumenta que um trabalhador que pedala está mais disposto e tem menos chances de adquirir problemas de saúde ao longo do tempo. E isso acaba estimulando o uso.
– As empresas também saem ganhando com a consolidação da bicicleta como meio de transporte. Quem usa, chega mais disposto para trabalhar, já chega com mais energia, menos estressado por causa do trânsito e também com mais saúde. Se o empresário der a estrutura, como chuveiros e bicicletários, os colaboradores vão poder ir de bike e já garantir o exercício físico, diminuindo problemas de saúde e, por consequência, ausências ou afastamentos do trabalho – afirma.
A reportagem procurou também a Nathor, outra empresa do ramo em Blumenau, que produz bicicletas e triciclos infantis, para avaliar o impacto dos números citados no início do texto, mas até o fechamento desta edição não obteve o retorno das ligações de nenhum responsável da empresa.
Mais espaço para as bikes
Apesar do crescimento e o comportamento positivo dos blumenauenses em relação às magrelas, a cidade ainda encara o problema de interligar os 92,7 quilômetros da malha cicloviária. A prefeitura de Blumenau pretende unir os trechos ampliando as ciclofaixas e as ciclovias. Em 2017, com a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana, a administração municipal traçou planos para alcançar 102,3 quilômetros em 2020 e chegar a 155 quilômetros em 2035.
– A bike já é realidade em Blumenau. A estrutura é boa, tendo em vista outras cidades do país, mas é preciso ainda melhorar as oportunidades para que os moradores possam usar cada vez mais a bicicleta como meio de transporte. Ela é sustentável, e principalmente, traz mobilidade. Só que para isso, é necessário que o poder público invista mais ainda e tenha cada vez mais a mentalidade de abranger a bicicleta nos projetos. A BR-470 é um exemplo disso, por que não incluir uma ciclovia na duplicação? – pontua Seibel.
Fonte: nsc/Por Nathan Neumann | Foto: Patrick Rodrigues
Sugestão de pauta