O evento acontece no que promete ser 'o setembro mais quente do país' em 85 anos
Nova Déli – Prestes a receber o encontro das maiores economias do mundo, o G20, a capital da Índia, Nova Déli, passa por diversos processos de ‘limpeza’ da cidade.
Os moradores de uma favela na região de Janta Camp, local próximo à cúpula do G20, foram surpreendidos com a demolição de suas casas nos últimos meses.
O processo faz parte da preparação para o evento que ocorrerá a apenas 500 metros de distância da favela.
Devido à demolição, diversas famílias foram despejadas e ficaram sem ter para onde ir.
Para tentar contornar a situação, alguns moradores recorreram à alta corte de Nova Déli para impedir os despejos, mas o tribunal afirmou que os assentamentos são ilegais.
Por isso, as autoridades obrigaram os moradores a desocupar o local até 31 de maio, cerca de 4 meses antes do G20.
Segundo autoridades do governo liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, as casas foram construídas ilegalmente em terras do governo e que a remoção das casas faz parte de uma “atividade contínua”.
No entanto, moradores e ativistas argumentaram que as demolições aconteceram apenas em nome do embelezamento para a cúpula.
Além disso, também reforçam que as pessoas vulneráveis, famílias que moravam nessas casas demolidas, estão sendo afetadas sem consideração por seu bem-estar.
Mais do que tirar a moradia dessas famílias, a limpeza nas favelas de Nova Déli impacta no emprego e na educação de adultos e crianças que trabalhem e estudem nas proximidades.
A expectativa dos moradores era que a cúpula resultasse em melhorias e benefícios para os pobres, mas foram decepcionados com as demolições.
Por isso, a população vê esse processo como uma medida polêmica em nome do desenvolvimento e embelezamento de Nova Déli.
Recolhimento de Cães de Rua em Nova Déli
Além da ‘limpeza’ em Janta Camp, agora as autoridades locais também estão recolhendo centenas de cães de rua na cidade a poucos dias do G20.
Inicialmente, as autoridades tentaram negar que a remoção dos animais esteja relacionada ao evento, mas ambulâncias usadas na captura dos cães exibiam placas que diziam “A serviço do G20“.
De acordo com dados divulgados pelo governo indiano, a capital tem mais de 60 mil cães de rua, alimentados e cuidados pela população local de mais de 20 milhões de pessoas.
A prefeitura de Nova Déli emitiu uma ordem em agosto para remover os cães “das proximidades de locais à vista do encontro do G20”, mas a ordem foi retirada dois dias depois devido a críticas.
No entanto, mais de mil cães já foram capturados em regiões próximas ao aeroporto e local do G20.
Essa remoção dos cachorros gerou críticas de grupos de defesa dos animais, como a ONG People for Animals.
Além disso, alguns consideraram irônico que o tema do G20 seja “uma terra, uma família, um futuro” enquanto os cães de rua não têm espaço.
Em resposta, a administração municipal afirmou que os cães são rastreados e devem ser devolvidos ao local de onde foram capturados, porém sem prazo específico para essa devolução.
Medidas contra macacos
A remoção dos cães das ruas não é a primeira medida das autoridades locais contra animais soltos em Nova Déli.
Semanas atrás, foram colocadas imitações de languros para espantar macacos de espaços públicos antes do evento.
Outra medida foi a mobilização de uma equipe de “homens-macaco” para afastar macacos saqueadores que podem perturbar a cúpula.
As figuras de primatas em tamanho real foram instaladas para impedir que os macacos destruam arranjos de flores e causem problemas nas áreas governamentais da cidade.
Segundo as autoridades locais, os macacos são ameaça frequente em Nova Déli, causando danos a jardins, escritórios e telhados residenciais.
Além disso, os bichos também têm o hábito de atacar pessoas em busca de alimento.
Os macacos são uma ameaça frequente em Nova Déli, onde causam danos a jardins, escritórios e telhados residenciais, além de atacar pessoas em busca de comida.
G20, líderes mundiais e segurança em Nova Déli
A cúpula do G20 em Nova Déli contará com a presença da maior delegação de líderes mundiais da história.
Entre os presentes estão os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Joe Biden, dos Estados Unidos, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, o príncipe saudita Mohammed Bin Salman e os premiê Justin Trudeau, do Canadá, e Fumio Kishida, do Japão.
Porém, além dos nomes presentes, a ausência do presidente chinês, Xi Jinping, chama a atenção.
Isso porque a ausência do representante da China representa um desafio para os esforços da Índia em promover iniciativas de seu interesse durante sua presidência do grupo.
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Além disso, reforça algumas tensões enfrentadas pela relação entre os dois países, incluindo conflitos territoriais e discordâncias sobre a estratégia dos países emergentes na política internacional.
Enquanto Narendra Modi busca impulsionar o G20 durante sua presidência, Xi Jinping pretende destacar outras iniciativas emergentes, como o BRICS ampliado.
A Índia, focando em impulsionar e garantir um encontro de sucesso para o G20, implantou medidas de segurança especiais para o evento.
Entre as medidas estão as forças especiais, os atiradores de elite e “Black Cats”, a guarda antiterrorista indiana.
Além disso, tecnologia antidrones também será usada para a proteção da cúpula contra ameaças aéreas.
Na terra, o trânsito será restrito e regulamentado em grandes áreas do centro de Nova Déli.
A medida é para permitir apenas a circulação de limusines blindadas para transportar os dignitários visitantes.
Outras medidas de preparação em Nova Déli
Além da segurança, limpeza e remoção de animais, a cidade passou por outras transformações desde que o país assumiu a presidência do G20 em 2022.
Mais de 4.000 sem-teto foram transferidos para “abrigos”, fontes foram reabertas após anos fechadas e cerca de 70 mil vasos foram colocados em toda a cidade para manter a vegetação, medidas para se livrar da imagem de caótica, suja e poluída da cidade.
As autoridades também instalaram estátuas, incluindo uma de 8,5 metros de altura do deus hindu Shiva, na entrada do local da cúpula.
Para combater a propagação de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e malária, equipes com inseticidas trabalharam com a pulverização de criadores.
Além disso, peixes que se alimentam de larvas de mosquitos foram soltos em cerca de 180 lagos e lagoas da cidade, também para controlar os riscos de transmissão de doenças.
Calor extremo durante a cúpula
O país passa por um momento de calor extremo, com previsão que setembro bata todos os recordes de temperatura alta no país.
Em Nova Déli, os termômetros registraram 40°C, a temperatura mais alta para o mês de setembro em 85 anos.
A onda de calor acontece durante um período de chuvas abaixo do normal, com agosto sendo o mês mais seco em mais de um século no país.
A frequência do calor extremo aumenta cada vez mais na Índia, e uma análise da organização Carbon Plan projetou o número de 153 dias por ano com temperaturas extremamente altas em Nova Déli.
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