Município de Antônio Carlos tem 13 pacientes com a doença, sendo que quatro idosos de casa de repouso perderam a vida após contraírem a Covid-19
A única instituição de longa permanência de idosos de Antônio Carlos, na Grande Florianópolis, tem preocupado as autoridades de saúde. Quatro moradores do asilo morreram com diagnóstico de coronavírus e outros seis estão com a doença. A casa de repouso contabiliza sozinha praticamente todos os casos de Covid-19 da cidade de pouco mais de 8,5 mil habitantes. O município, que não tem hospital e conta apenas com um Centro de Saúde, está em situação de calamidade pública.
De acordo com a prefeitura, são 13 os casos de coronavírus, dos quais 11 no asilo. O estado, porém, considera 11 o total de infectados, sem detalhar a quantidade na casa de repouso. Sobre a divergência, diz que os dados fornecidos pelo governo são oficiais e com base em sistema alimentado pelos municípios e que os casos são registrados de acordo com a cidade de endereço do paciente que consta do Cartão Nacional de Saúde (CNS). Até a manhã deste sábado (18), Santa Catarina contabilizava 31 mortes e 962 pacientes com Covid-19.
O alerta em Antônio Carlos foi aceso no dia 25 de março, com a divulgação da primeira morte do asilo: a de Harry Klueger, idoso que vivia na Casa de Repouso Recanto do Arvoredo. O homem de 86 anos estava havia apenas uma semana no local e não tinha qualquer sintoma de coronavírus, segundo informaram o dono do local e a família da vítima.
A chegada da doença mudou a rotina da casa de repouso e no município, que começou a fazer a aplicação dos testes. A instituição passou por sanitização e as visitas estão suspensas desde 15 de março. Dos seis idosos com a doença no asilo, cinco estão no local. Eles já passaram pelo isolamento, porque já se passaram 23 dias da coleta, e recebem cuidados especiais. A sexta vítima está na enfermaria de um hospital particular na Grande Florianópolis e o estado de saúde é estável.
A prefeitura também passou a exigir relatórios diários sobre a situação dos idosos e dos funcionários. Nesse período, durante ao menos duas semanas as informações foram repassadas pela enfermeira-chefe da casa, pois o médico pediu demissão. A Secretaria de Saúde municipal diz, porém, que não é possível relacionar as mortes à falta de um profissional da área no local.
“Não acho que se tivesse médico ali não teriam falecido. São todos idosos com muitas comorbidades. Pega um quadro desse e mais a Covid-19, não tem como. E além disso eles têm enfermeiras e chamam um serviço 24h com remoção hospitalares nas emergências”‘, disse a secretária de Saúde Solange Aparecida Schmitz Kremer.
Não há legislação que obrigue as ILPIS a terem médicos em seu quadro de funcionários, mas há recomendações nesse sentido. O novo profissional começou a trabalhar após a última morte registrada.
Asilo em dificuldades
O dono do asilo diz que tem contado com doações para ajudar a manter a casa funcionando. “Em relação a materiais de EPI [equipamento de proteção individual], eu estou ganhando da comunidade, de grupos que fizeram e estão fazendo arrecadação de vários itens, tanto máscara, avental, óculos, alimentação, carne, tudo a gente está sendo auxiliado por grupos de amigos que estão nos ajudando porque estado e município não nos deram nada”, disse Luis Fernando souza.
“Foram muitas horas extras para cobrir os funcionários afastados, comprar EPIS, mais material de limpeza para seguir a norma técnica do Estado”, detalhou.
Após a primeira morte, o quadro de funcionários ficou por cerca de uma semana reduzido, pois muitos precisaram ser afastados por orientação da Vigilância Epidemiológica. Até que saísse a confirmação dos exames aos quais foram submetidos, eles ficaram em casa.
O Estado informou ao G1 que a distribuição de EPIs prioriza as entidades públicas e trabalhadores da saúde, ficando a cargo das instituições privadas providenciarem os equipamentos. A prefeitura informou que auxilia os idosos da casa que são vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS) com fornecimento de medicamentos, fraldas geriátricas e materiais para curativo.
Testes e familiares
Apesar de os testes terem sido feitos nos funcionários e idosos do asilo, os filhos de Harry Klueger esperavam que fossem submetidos a testagem. Eles ficaram em isolamento por orientação da Secretaria de Saúde de Porto Belo, onde o pai morava e não tiveram sintomas. O enterro foi sem saber que a vítima tinha Covid-19.
“Eu estava direto com ele, de segunda à sexta. Sexta chegava meu irmão ou irmã para eu descansar. Eu e meu irmão que levamos o pai para a casa de repouso”, disse Reinaldo Klueger, 66, que mora em Florianópolis. “Ninguém nos procurou”, declarou. O irmão dele também mora na capital e a irmã, em Blumenau.
Segundo Reinaldo, ele e o irmão que moram em Florianópolis vão ser testados neste sábado (18), por meio de sistema drive-thru, num terminal de ônibus.
Familiares acompanham a situação
O médico atual e os 26 funcionários têm mantido contato diário por telefone com os familiares dos 24 idosos que ainda estão no asilo. Após a primeira morte, apenas uma família buscou um idoso e levou para casa, mas segundo o dono do lar, foi por dificuldades financeiras para manter o paciente. Os demais responsáveis pelos moradores continuam pagando suas mensalidades. O valor não foi informado por Luis Fernando.
“Idosos estão protegidos dentro de ILPIs preparadas e tomando todos os cuidados. Mesmo em distanciamento social, eles não podem ser abandonados e medidas de humanização, como chamadas de vídeo com familiares, por exemplo, devem ser oferecidos sempre”, disse Raquel Chagas, médica geriatra e paliativista.
Mortes
A primeira foi contabilizada para Porto Belo, cidade onde Harry morava antes de ir para o asilo. Por isso, oficialmente, Antônio Carlos registra três mortes. A segunda foi em 2 de abril, uma idosa de 66 anos de saúde debilitada, que vivia acamada e que morava havia pelo menos cinco anos na casa de repouso. O terceiro foi confirmado em 8 de abril, de um homem de 79 anos que estava no Hospital Florianópolis, na capital. A quarta morte foi de uma idosa de 65 anos, no dia 10.
Sem maiores restrições
O fato de mais de 80% dos casos estarem concentrados no mesmo lugar tem ajudado no combate, diz a Vigilância Sanitária. Esse foi um dos motivos para que a prefeitura não endurecesse as medidas de isolamento social depois do relaxamento da quarentena para diversas atividades econômicas por parte do governo catarinense, o que permitiu a reabertura do comércio, entre outros setores.
E, ainda seguindo as normativas do estado, a administração municipal reforça o pedido para que a população evite sair de casa, que faça higienização das mãos e mantenha distância entre as pessoas. Nos estabelecimentos em geral, a máscara é obrigatória.
“Temos cerca de 80 pacientes monitorados diariamente pela Vigilância Sanitária e Vigilância Epidemiológica. Todos dias via mensagem de WhatsApp, as servidoras entram em contato com os pacientes atendidos na unidade e que apresentaram algum tipo de sintoma respiratório, perguntando da evolução do caso”, afirmou a secretária de Administração. Nenhum foi submetido a testes.
Nem a Secretaria municipal de Saúde, nem familiares e o asilo sabem como o coronavírus chegou na casa de repouso e na cidade.
“Quem sabe meu pai foi o anjo que salvou a pele de muitos que lá estavam, meu pai não tinha sintomas de Covid-19. Com certeza não fariam os exames. Se meu pai tivesse morrido em casa, sabe Deus quantos iam morrer na casa de repouso”, afirmou Reinaldo.
Máscaras
No início do mês, o município comprou, sem licitação, cerca de cinco mil máscaras, além de aventais e jalecos descartáveis. Os materiais são usados pelos trabalhadores da Secretaria de Saúde, entre médicos, enfermeiros e as pessoas que atuam na limpeza na unidade de saúde. Máscaras também são distribuídas ao moradores que apresentam sintomas
“Temos um sistema de triagem, as pessoas vêm, relatam se há sintoma respiratório ou não, e se tiver, recebe máscara e é direcionado ao prédio específico. Se não é, vai para o prédio que atende outras queixas. São dois prédios separados, duas equipes de saúde separadas”, detalha a secretária de Administração Mirlene Manes.
Segundo ela, a prefeitura avalia fazer uma nova compra, mas está com dificuldades para encontrar fornecedores. A secretária de Saúde informou que procurou o Estado para pedir apoio com EPIS. A administração municipal tem recomendado que a população use máscaras de pano, mas não obrigou o uso do item, como fez Florianópolis e outras 21 cidades de Santa Catarina.
Estado
O governo do estado publicou na noite de sexta (17) uma portaria com as orientações às instituições de longa permanência. Entre as recomendações, estão que idosos com Covid-19 e que são autônomos, ou seja, não precisam da ajuda de outras pessoas, devem continuar no abrigo. Para os demais, a orientação é que possam ser levados para cumprir quarentena na casa de familiares ou, se houver recomendação médica, que sejam encaminhados a um hospital.
Fonte: G1 SC
Foto: Secretaria de Administração de Antônio Carlos/Divulgação
Sugestão de pauta