Morre Lázaro Vargas, o homem que deu vida ao espírito natalino por 40 anos em Timbó
Lázaro visitou centenas de famílias, levou alegria a crianças e adultos e tornou-se parte da identidade natalina local.

A cidade de Timbó está de luto nesta segunda-feira, 24 de Novembro. Faleceu o Sr. Lázaro Rodrigues Vargas, figura querida e símbolo do espírito natalino local, conhecido por toda a região como o Papai Noel de Timbó.
Aos 97 anos, Lázaro deixa uma história profundamente entrelaçada com a cultura, o teatro e a memória afetiva de gerações de timboenses.
Nascido em 23 de fevereiro de 1928, em Alegrete, no Rio Grande do Sul. Embora sua certidão registre o ano de 1929, Lázaro teve uma infância modesta e marcada por coragem. Aos 11 anos, tomou uma decisão que mudaria o rumo de sua vida: deixou sua cidade natal e seguiu sozinho para Porto Alegre.
“Viajando um dia e uma noite, chorando”, contava ele ao recordar o momento.
Na capital gaúcha, começou trabalhando na carga e descarga de frutas e, posteriormente, na tradicional loja Mesbla. Foi lá que um policial de Alegrete o reconheceu e o fez retornar à sua família, que o procurava desde sua partida precoce.
Após servir o Exército, experiência que jamais apreciou, Lázaro casou-se aos 18 anos, teve dois filhos, mas o matrimônio durou apenas três anos. Ele então mudou-se para Santana do Livramento, onde começou um pequeno comércio de pipoca e algodão-doce.
O encontro com o teatro que mudaria sua vida
Em Santana do Livramento, ocorreu o encontro que transformaria sua trajetória. A Companhia de Teatro do Biduca estava na cidade, e Lázaro, determinado, procurou o responsável. Foi contratado para vender pipoca e algodão-doce nos espetáculos, mas o palco o chamava.
Durante as viagens pelo Sul do Brasil e outras regiões, seu talento apareceu. Na década de 1950, subiu ao palco como ator, tornando-se também secretário da companhia. Foram 15 anos de dedicação.
Em 1965, ingressou na Companhia de Teatro de Irineu Adami, da qual se tornou sócio. No ano seguinte, a companhia passou por Timbó, durante a administração do prefeito Henry Paul. Era sua primeira ligação com a cidade que, décadas depois, o abraçaria como um de seus ícones culturais.
O amor, a família e o retorno a Timbó
Em Timbó, Lázaro conheceu Liselote Guenther, viúva e mãe de Danila Butzke e Luciana Butzke Marconcini. O relacionamento floresceu rapidamente. Quando a companhia foi vendida ao Sr. Geraldo Passos, o Biriba, e retornou a Timbó em 1968, Lázaro convidou Liselote e suas filhas para seguirem com ele. Juntos, tiveram mais dois filhos: Gilberto Guenther Vargas e Adriano Guenther Vargas (in memoriam).
Em 1977, Lázaro decidiu fixar raízes definitivamente em Timbó. Instalou-se na Rua Germano Brandes, onde fundou uma das primeiras fábricas e comércios de picolés e sorvetes da cidade, tornando-se pioneiro no setor.

O nascimento do Papai Noel de Timbó
Apesar do trabalho no comércio, o chamado artístico nunca o abandonou. E foi justamente a arte que o levou a criar o personagem que mudaria a história cultural da cidade: o Papai Noel de Timbó.
Nos anos 1970, começou a se apresentar como Papai Noel durante os períodos natalinos. A figura cresceu, se popularizou e se tornou tradição. Por 40 anos, Lázaro visitou centenas de famílias, levou alegria a crianças e adultos e tornou-se parte da identidade natalina local.
Muitos relatavam que o olhar bondoso, a voz carinhosa e a postura acolhedora faziam dele muito mais que um personagem: era, para muitos, o próprio espírito do Natal materializado.
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O teatro como legado cultural
Além das apresentações natalinas, Lázaro manteve vivas suas raízes artísticas. Junto de seu então genro Ramon, fundou a Companhia de Teatro São Francisco de Assis, amplamente apoiada pelo prefeito da época, Ingo Germer, grande incentivador da cultura municipal.
A companhia promoveu peças, atividades culturais e ajudou a formar espectadores e artistas locais, ampliando o impacto da dedicação de Lázaro às artes e ao teatro.
Uma despedida marcada por gratidão
Lázaro aposentou-se oficialmente em 2017, mas continuou interpretando o Papai Noel dentro de casa, para filhos, netos e bisnetos. O personagem, e o homem por trás dele, permaneceram vivos em cada Natal de sua família.
Sua partida deixa Timbó mais silenciosa, porém carregada de memórias afetivas. O homem que chegou sozinho a Porto Alegre aos 11 anos, que foi ator, comerciante, pai, avô, artista e símbolo das festas de fim de ano, deixa um legado de alegria, cultura e humanidade.
Um legado eterno
O Sr. Lázaro Rodrigues Vargas não foi apenas um personagem da história de Timbó. Ele foi um autor: escreveu com sua vida capítulos de coragem, arte, amor e dedicação.
Timbó perde hoje um de seus tesouros humanos, mas seu legado ficará vivo nas lembranças, nas histórias contadas de geração em geração e no brilho das luzes de Natal que, ano após ano, parecem carregar um pouco do seu espírito.
Eu tive o prazer de estar ao lado dessa figura ilustre!
Descanse em paz, Papai Noel de Timbó.










