A atividade pedia para que os alunos usassem feijão, mas um dos trabalhos não seguiu a orientação
Uma atividade escolar proposta a alunos do 2º ano do ensino fundamental em Pomerode causou polêmica após um aluno usar palha de aço para representar cabelo afro de uma mulher negra.
A atividade pedia que as crianças usassem grãos para representar o cabelo para um mural sobre o dia da Consciência Negra, mas um dos alunos da Escola Municipal Duque de Caxias não seguiu a orientação.
A atividade, realizada em 8 de novembro, foi exposta até o dia 25. No sábado, 23, imagens começaram a circular nas redes sociais após a publicação da familiar de um aluno, que criticou a proposta.
Segundo a familiar, a tarefa reforça estereótipos e pode causar impactos negativos nas crianças. “Nem feijão, nem palha de aço nem nada, cabelo é cabelo ué. Atividade tosca”, escreveu em sua postagem.
A presidente da Associação de Educadores Negros de Santa Catarina, Maria Aparecida Rita Moreira, também se manifestou.
Para ela, a atividade não desconstrói estereótipos e falha em promover a valorização da cultura afro-brasileira.
“Nosso cabelo não é de ‘bombril’. Nosso cabelo é lindo e está ligado à nossa identidade e ancestralidade. Respeitem!”, afirmou.
A Secretaria de Educação de Pomerode informou que abriu uma apuração rigorosa para identificar os responsáveis e evitar que situações semelhantes se repitam.
Em nota, destacou que o episódio foi isolado, envolvendo apenas um aluno que utilizou palha de aço.
A pasta reforçou seu compromisso com a promoção de ações educativas que valorizem a diversidade e combatam o preconceito.
Apesar do episódio, a Secretaria de Educação ressaltou iniciativas como o Sarau Literário da Consciência Negra, realizado em 21 de novembro, que envolveu discussões sobre a história e a cultura africanas em todas as escolas municipais.
O caso segue sendo investigado, e novas medidas educativas devem ser implementadas.
Confira abaixo a nota completa da presidente da Associação de Educadores Negros de Santa Catarina
“Há 21 anos temos uma lei que obriga professoras/es da Educação Básica a pautarem as temáticas africanas e afro-brasileira em seus currículos: a Lei nº10.639.
Esta Lei possui dois artigos: o 26-A e o 79-B, porém muitas escolas se atém apenas ao Art. 79-B e realizam projetos pontuais, para as comemorações do dia da Consciência Negra e, como resultado, professoras/es fazem exposições tais como as das imagens que recebi.
Observando as imagens, vários pontos podem ser levantados: a falta de formação inicial das/os profissionais de educação, importante lembrar que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana de 2004 prevê para o ensino superior:
- a inclusão “nos conteúdos de disciplinas e em atividades curriculares dos cursos que ministra, de Educação das Relações Étnico-Raciais, de conhecimentos de matriz africana e/ou que dizem respeito à população negra” (p.24);
- a necessidade de formação continuada por parte das secretarias de educação, garantindo diálogo constante sobre de que forma o racismo afeta as relações étnico-racias e a importância da inserção dos conteúdos previstos no art. 26-A da LDB e suas Diretrizes no planejamento das/os profissionais de educação;
- o acompanhamento e diálogo da gestão e equipes pedagógicas das escolas no desenvolvimento das práticas educativas e na organização de mostras no espaço escolar;
- o comprometimento da/o profissional da educação ao desenvolver uma atividade com suas/seus estudantes, questionando – qual o objetivo da atividade?
A atividade desconstrói ou mantém estereótipos?, para essa atividade específica, ainda é possível indagar – Qual a relação do cabelo com a disciplina que a professora ministra?
Muitas pessoas negras carregam marcas negativas de sua trajetória escolar, espaço que deveria ser de empoderamento, de positividade e de esperançar.
A educação precisa ser lugar de emancipação e, como lembra Nilma Lino Gomes, a ação do racismo sobre os negros, “[…], o cabelo e a cor da pele podem sair do lugar da inferioridade e ocupar o lugar da beleza negra, assumindo uma significação política.” e nesse sentido, todos os envolvidos no processo educacional formal têm responsabilidades e precisam urgentemente assumi-las.
Nosso cabelo não é de Bombril. Nosso cabelo é lindo e está ligado à nossa identidade e a nossa ancestralidade. Respeitem!
Dra. Maria Aparecida Rita Moreira
Professora aposentada da Rede Estadual de Santa Catarina”
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O que diz a Secretaria de Educação de Pomerode sobre o caso envolvendo a palha de aço
“A Secretaria Municipal de Educação e Formação Empreendedora assim que tomou conhecimento do ocorrido, iniciou imediatamente uma apuração rigorosa dos fatos, seguindo os protocolos necessários para responsabilizar os envolvidos e garantir que medidas sejam adotadas para prevenir situações semelhantes.
O ocorrido, trata-se de um fato isolado, em uma escola, em uma turma específica e de apenas um aluno, considerando que os demais alunos usaram outros materiais para fazer a atividade. Além disso, ações educativas e formativas continuarão a ser intensificadas no sentido de reforçar os princípios de igualdade e respeito no ambiente escolar.
A Secretaria entende que o papel da escola é fundamental na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Prova disso foi que no último dia 21 de novembro, a Secretaria Municipal de Educação e Formação Empreendedor promoveu o segundo Sarau Literário da Consciência Negra, momento de reflexão e discussão do tema envolvendo todas as unidades de ensino da Rede Municipal de Ensino.
O Sarau foi a exposição publica do trabalho que cotidianamente vem sendo realizado nas unidades escolares da Rede Municipal de Educação em cumprimento da Lei nº 10.639/2003, que inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
Além disso, foi proporcionado formação continuada aos professores, bem como aquisição de material de autoria de um especialista em Cultura Africana e afro-brasileira para educação das relações étnico-raciais que foi trabalhado com os alunos da rede municipal de educação.
Reafirmamos nosso compromisso com a promoção de uma educação que valorize a diversidade, respeite os direitos humanos e combata todas as formas de preconceito e discriminação.”
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