A substância extraída desse inseto é capaz de eliminar células de câncer de mama e de melanoma.
A professora de biologia Márcia Mortari, da Universidade de Brasília (UnB), sempre dedicou sua carreira à investigação de como elementos naturais podem ser utilizados na criação de medicamentos para tratar diversas doenças.
No entanto, sua trajetória de pesquisa tomou um novo rumo quando ela própria foi diagnosticada com câncer de mama. A partir desse momento, o estudo de substâncias e moléculas com potencial de combate ao câncer se tornou sua principal área de interesse.
Nessa nova etapa de sua carreira, Márcia e sua equipe fizeram uma descoberta significativa: o veneno do marimbondo Chartergellus communis possui propriedades antitumorais.
Em experimentos laboratoriais, verificou-se que a substância extraída desse inseto é capaz de eliminar células de câncer de mama e de melanoma, uma forma particularmente agressiva de câncer de pele.
Apesar de ser uma espécie endêmica do Brasil, o marimbondo Chartergellus communis ainda não havia sido objeto de estudo científico detalhado. A tarefa de identificar e analisar as mais de 200 substâncias presentes em seu veneno apresentou um desafio significativo.
“Escolhemos esse inseto porque outros semelhantes tinham apresentado propriedades antitumorais”, comenta a professora.
Segundo informado pela professora ao Metrópoles, o veneno do marimbondo é composto por um coquetel de substâncias que desempenham várias funções, desde a proteção do ninho até a imobilização de presas e ataque a inimigos.
Ela contou que já havia trabalhado com venenos de vespas e lido pesquisas que identificaram compostos antitumorais em venenos de abelhas, então imaginou que podia encontrar algo promissor também no veneno do marimbondo.
Uma proteína específica, chamada chartergellus-CP1, encontrada no veneno do marimbondo, mostrou-se capaz de destruir células tumorais em dois subtipos de câncer de mama: o HR+ e o triplo negativo, este último conhecido por ser um dos mais difíceis de tratar.
Os resultados iniciais dessa pesquisa foram publicados na revista Toxicology em 2022, e desde então, a equipe de Mortari tem trabalhado para viabilizar a utilização da chartergellus-CP1 em medicamentos.
“Estamos em contato com farmacêuticas para fazer rodadas de testes. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas, espero que no futuro existam múltiplas formas de tratamento e com poucos efeitos colaterais”, afirma a professora.
Além de sua eficácia contra o câncer de mama, o veneno do marimbondo também se mostrou promissor em testes contra células de melanoma humano. Os detalhes dessa descoberta foram publicados em janeiro deste ano na revista Biochimie.
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Márcia Mortari também se dedica a pesquisas voltadas para melhorar a tolerância ao tamoxifeno, um medicamento comum no tratamento do câncer de mama.
O tamoxifeno age bloqueando hormônios, mas seus efeitos colaterais, como ondas de calor, queda de cabelo e dores musculares, fazem com que muitas mulheres abandonem o tratamento.
Por fim, a profissional contou que após o tratamento dela, ela recebeu uma nova chance de vida, e isso a impulsionou a tentar ajudar outras mulheres que estão enfrentando essa doença.
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