“Sinto como se tivesse mais uma família, pessoas que se importam comigo, cobram boas notas na escola e sei que posso contar se tiver algum problema”. A frase é de Emily Andretto, de 14 anos, uma das alunas do Projeto Capoeira e Família, promovido pela Escola Abadá de Capoeira, que desde 2016 tem o reconhecimento do Ministério da Educação.
Há dois anos Emily, conhecida na capoeira como Pétala, frequenta as aulas que acontecem duas vezes por semana na Escola Nestor Margarida, no bairro Araponguinhas. Quem comanda o berimbau é Luiz Antonio Fagundes da Silva, o professor Serrote.
“Eu costumo dizer que capoeira é a última coisa que ensino aqui. Primeiro vem o respeito, a disciplina, o compromisso, estar bem em casa e na escola”, diz.
Professor Serrote e a esposa, Ana Karina Fagundes da Silva – a Amora – moram em Blumenau. Há três anos, o casal pega a estrada para dar aulas em Timbó (no Araponguinhas e no bairro das Nações) e atender cerca de 50 crianças e adolescentes, de 5 a 18 anos.
“Não cobramos nada, nem o uniforme. Eu mesma costuro em casa o uniforme das crianças de famílias mais humildes”, conta Amora. “Não é fácil, fazemos rifas, pasteladas… mas não podemos desistir, sabemos o quanto o projeto significa para esses meninos e meninas. Estamos em busca de apoiadores”, informou.
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Um dos alunos mais antigos é Ryan Victor Grião, de 13 anos, que já ajuda a conduzir as aulas. “Sinto que desde que entrei aqui, há três anos, me tornei uma pessoa mais responsável e feliz”, disse o rapaz. Ele ganhou o apelido de Veneno. “Contei uma história para o mestre e ele sugeriu esse apelido, gostei na hora!”, conta.
Sobre a capoeira
A capoeira surgiu como forma de resistência durante o período mais sombrio da história brasileira, a escravidão. Os escravizados tentavam desviar dos movimentos violentos dos capitães do mato, mas como todo tipo de luta era proibido, eles disfarçavam movimentos, incluíram a ginga e a associação à música, no que parecia uma dança. Assim, nasceu a capoeira.
“Por medo da repressão, ninguém dava o nome real, por isso, sempre que alguém entrava na capoeira ganhava um apelido, tradição mantida até hoje”, explica o Professor Serrote.
Quando a escravidão foi abolida oficialmente, os negros escravizados foram libertados, mas sem condições de acesso à moradia ou emprego. A presença das pessoas nas ruas gerou o temor de uma revolta (como já havia acontecido na Bahia) e, apenas uma semana após a abolição da escravatura, a Câmara aprovou o Projeto de Repressão à Ociosidade.
Logo depois, a capoeira foi proibida no Brasil durante quase 50 anos (entre 1889 e 1937). Uma simples demonstração rendia seis meses de prisão.
Hoje, a capoeira é reconhecida como parte da identidade cultural brasileira e considerada patrimônio cultural pela UNESCO.
Quem quiser participar das aulas em Timbó pode entrar em contato pelo Instagram Abadá-Capoeira -Timbó
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