Os participantes da audiência insistiram que a prática esportiva é fundamental como prevenção não apenas à Covid, mas a várias outras doenças.
As arenas esportivas devem ter nos próximos dias um novo e único regramento sanitário para o funcionamento em tempos de pandemia da Covid-19. É o que adiantou o superintendente de Vigilância em Saúde de Santa Catarina, Eduardo Macário, durante audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa, na tarde desta segunda-feira (5), para discutir as portarias e decretos estaduais que restringem a prática de esportes em função do coronavírus.
O encontro, organizado pela Comissão de Educação, Cultura e Desporto, foi solicitado pelo deputado Fernando Krelling (MDB) e contou com a participação remota de mais de 20 pessoas, entre educadores físicos, empresários, autoridades, profissionais da saúde, secretários municipais de esporte, entre outros.
Antes de iniciar os debates, Krelling pediu um minuto de silêncio para o desportista João Kiyoshi Okuti, que faleceu na semana passada por causa da Covid-19. Em seguida, o parlamentar defendeu o retorno das atividades esportivas, principalmente do chamado desporto de participação, com protocolos unificados de segurança sanitária.
“Os complexos esportivos estão à mercê de normas com interpretações equivocadas, a maioria está sem trabalhar desde o ano passado”, comentou Krelling. “Não é só a questão econômica, estamos falando da importância do esporte para a saúde das pessoas. O esporte não é o vilão. Queremos mostrar que o esporte é importante na prevenção.”
O presidente da Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte), Kelvin Soares, disse, durante a audiência, que a entidade trabalhou nos últimos dias na elaboração de uma norma voltada às atividades esportivas, com protocolos sanitários mais concretos. “A equipe da Fesporte se debruçou nesse documento, que é mais sintético e elucidativo”, disse.
O superintendente da Vigilância em Saúde informou que a unificação das normas sanitárias voltadas às atividades esportivas será encaminhada para avaliação da secretária de Estado da Saúde, Carmen Zanotto, para que ela possa aprová-la. “Teremos nos próximos dias uma legislação mais segura e queremos contar com todos para a sua divulgação e também para retomar as atividades, não como era antes, mas de uma forma muito mais segura”, disse Macário.
Ele ressaltou que Santa Catarina atravessou, nas últimas semanas, o período mais complicado da pandemia e, por isso, foi necessária a adoção de medidas que restringiram várias atividades, entre elas as esportivas. “O esporte sempre foi visto como um grande parceiro”, afirmou. “Essas atividades precisavam ser retomadas com a devida segurança para quem pratica, quem trabalha e os familiares.”
Manifestações
O deputado Fernando Krelling entende a gravidade do momento, mas defendeu que a retomada das atividades em arenas esportivas deve ocorrer. “Não dá mais. O cidadão não consegue mais esperar, não tem mais fôlego financeiro e nem saúde física para isso.”
Os participantes da audiência insistiram que a prática esportiva é fundamental como prevenção não apenas à Covid, mas a várias outras doenças. Afirmaram que artigos científicos têm apontado que os índices de internação e de morte pelo coronavírus são menores em pessoas que praticam atividade física.
“Restringir, proibir a atividade esportiva é um tiro no pé na luta contra o coronavírus”, disse o educador físico e doutor em saúde pública Francisco Pitanga. “Precisamos levar isso ao conhecimento de quem escreve as portarias e sensibiliza-los”, completou o presidente do Conselho Regional de Educação Física de Santa Catarina (Cref-SC), Irineu Furtado.
O médico Artur Haddad Herdy, cardiologista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), considera que a atividade física deve ser compreendida como uma proteção individual. Para ele, apesar dos riscos de contaminação pela Covid, os benefícios com a prática de esportes para a saúde são muito maiores.
A presidente do Conselho Estadual de Esporte (CED-SC), Michele Serejo, afirmou que os profissionais do esporte precisam ser ouvidos na definição dos regramentos, “para que não tenhamos documentos contraditórios, que mais confundem do que esclarecem.”
Proprietários de arenas esportivas reconheceram a importância da prevenção à Covid, mas destacaram as dificuldades econômicas enfrentadas pelo setor. “Há um ano tentamos ter voz ativa, mas não conseguimos”, disse Eduardo Freitas, de Rio do Sul. “Somos parte da solução, não do problema. Somos aliados, não vilões. O que falta é fiscalização”, afirmou Pablo Augusto Borges, de Florianópolis.
Representantes da Associação Catarinense de Centros Esportivos (ACCE) também participaram da audiência. James Stringari afirmou que não há registro de óbitos por Covid entre os frequentadores das arenas associadas. “Não são elas [as arenas esportivas] as vilãs dessa história. Esses profissionais precisam ter vez e voz”, comentou.
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Ed Pereira, da Secretária de Esporte e Lazer de Florianópolis, e Natália Petry, titular da mesma Pasta em Jaraguá do Sul, defenderam que haja diálogo com os profissionais do esporte antes da edição dos decretos restritivos. “O esporte é a vacina que todos têm direito nesse momento”, disse Pereira.
Os deputados Ricardo Alba (PSL), Mauricio Eskudlark (PL) e Valdir Cobalchini (MDB) participaram do debate. “Queremos entender o que faz o Estado proibir a atividade esportiva se essa prática, regrada, faz bem à população. Não é um político que fala isso, é a ciência”, comentou Alba.
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