A saga por crédito continua, empresários de vários setores continuam reclamando da dificuldade de conseguir o crédito emergencial garantido pelo governo
Os pedidos de socorro dos empresários viraram uma corrida contra o tempo enquanto a pandemia avança no país. Micro, pequenos e grandes empresários de todos os setores continuam reclamando da dificuldade de conseguir o crédito emergencial garantido pelo governo.
De acordo com dados do Ministério da Economia, disponíveis no Portal do Empreendedor e atualizados até 10 de julho, apenas R$ 18 bilhões dos R$ 71 bilhões disponíveis em linhas de financiamento foram concedidos, o que equivale a 25% do total.
A estratégia do governo inclui quatro linhas de crédito para socorrer os empresários na pandemia: o Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese); o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe); o Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas (Fampe); e o Programa Especial de Acesso ao Crédito (Peac), operacionalizado pelo BNDES por meio do Fundo Garantidor de Risco de Crédito (FGI).
Um problema desde o início da crise, o receio dos bancos privados em emprestar segue se refletindo nos números. Ainda de acordo com o painel do Ministério da Economia, considerando os quatro programas, a maior parte do crédito (65%) foi liberada por bancos ligados ao governo: a Caixa Econômica responde por 34% dos financiamentos, e o Banco do Brasil, por 31%. Entre as instituições privadas, o Itaú foi a que mais emprestou, respondendo por 23% do crédito liberado. Na sequência aparece o Santander, com apenas 5% dos financiamentos.
Sufoco dos empresários e dificuldade de acesso geram “corrida” pelo Pronampe
A demora para que o dinheiro chegue na ponta está levando cada vez mais empresas à falência. Em junho, o número de pedidos de recuperação judicial cresceu 45%, enquanto o de falências decretadas aumentou 71%, na comparação com o mesmo período de 2019.
Dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (16) indicam que mais de 716 mil empresas no país estavam fechadas definitivamente na primeira quinzena de junho. A pesquisa Pulso – feita pelo IBGE para acompanhar os efeitos da pandemia nas empresas – aponta, ainda, que 32,3% das empresas que conseguiram uma linha de crédito emergencial para o pagamento da folha de salários o fizeram sem o apoio do governo.
O acesso está melhorando, mas não chegamos no montante ideal, nem no atingimento da maior parte. O objetivo é continuar com linhas de crédito adequadas para o consumidor final”, avalia Márcio Montella, gerente do Sebrae.
“Um sintoma do sufoco dos empresários é a rapidez com que o dinheiro vem se esgotando nas instituições mais dispostas a emprestar. No Itaú, os valores disponíveis para o Pronampe acabaram em meia hora na manhã da última segunda-feira (13). Ao todo, o banco desembolsou R$ 3,7 bilhões – R$ 700 milhões a mais do que os previstos inicialmente. Em três dias, 37 mil micro e pequenas empresas clientes do Itaú acessaram o crédito, que contrataram via aplicativo.
Na Caixa Econômica Federal, o estoque de crédito disponível para o Pronampe também já acabou. Na segunda-feira (13), o banco havia anunciado que o montante para os financiamentos havia sido ampliado em R$ 1,66 bilhão. Mas, apenas um dia depois, o valor máximo, de R$ 5,9 bilhões, já havia sido atingido.
Até sexta-feira (10), o Pronampe havia liberado R$ 11 bilhões para 110 mil empresas. O programa, que soma R$ 18 bilhões, é o mais cobiçado pelos micro e pequenos empresários. O montante, entretanto, parece insuficiente para suprir a demanda.
São 120 dias que estamos falando da demora. A maioria dos nossos empresários ainda não conseguiu esse dinheiro. Eles estão inadimplentes, como vão pagar as contas? Precisamos da ajuda do setor público”, afirma Fabio Aguayo, da Associação de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) de Curitiba.
Empréstimos do Pronampe ganharam agilidade, mas outras linhas de crédito seguem com dinheiro “empoçado”
Apesar de os empréstimos pelo Pronampe terem ganhado agilidade nos últimos dias, as demais linhas de crédito seguem sendo liberadas a conta-gotas.
“Com R$ 40 bilhões disponíveis, o Pese foi criado para financiar a folha de pagamento de pequenas e médias empresas por dois meses. O programa, que apresentou várias falhas, foi encerrado em 30 de junho com apenas R$ 5 bilhões concedidos (12% do total) a 116 mil empresas.
O Fampe (Fundo de Aval a Micro e Pequenas Empresas) também engatinha. Dos R$ 7,5 bilhões disponibilizados, apenas R$ 1,8 bilhão foi concedido a 23 mil clientes, entre MEIs (microempreendedores individuais), microempresas e empresas de pequeno porte.
Empresários torcem, agora, pelo sucesso da linha de crédito do Peac-FGI, do BNDES, com R$ 20 bilhões disponíveis. Criada pelo governo por meio da Medida Provisória 975, em 1º de junho, a linha é voltada para micro, pequenas e médias empresas, além de empreendedores individuais e caminhoneiros autônomos. O texto está sendo analisado no Congresso.
O Pronampe está funcionando muito bem. Esperamos que o FGI também tenha o mesmo sucesso”, diz Renato da Fonseca, gerente-executivo de economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Diante das negativas, casos de empresários desesperados se multiplicam, enquanto os problemas não são resolvidos, alguns casos retratam o desespero de empresários. Na segunda-feira (13), Arlindo “Magrão” Ventura, dono do tradicional bar O Torto, em Curitiba, se acorrentou em frente a uma agência da Caixa após ter seu pedido de empréstimo negado. “Estamos fechados em nome da saúde pública, mas esses bancos têm que disponibilizar um recurso para manter não só a nossa empresa, mas o emprego”, disse Magrão.
O empresário foi recebido pelo banco na manhã de quarta-feira (15), após passar 48 horas acorrentado, e informou que conseguiu o empréstimo. Questionada pela Gazeta do Povo, a Caixa não comentou o episódio, mas mencionou o acréscimo de valores disponíveis para o Pronampe.
Ninguém pegou o crédito, reclama o empresário Nilson Garbarz ao se referir a centenas de empreendimentos turísticos do sul da Bahia que, como ele, sofrem com a falta de clientes e de receita.
Garbarz e a filha Tatiana administram uma pequena pousada em Caraiva (BA) e precisam de dinheiro para não fechar as portas e evitar a demissão de quatro funcionários – um já teve o contrato rescindido. “Não pode ser loteria, não pode ser só para quem chega primeiro. Tem que ter para todo mundo”, reclama o empresário.
A família teve dois pedidos de empréstimo negados: o primeiro foi por meio do Fundo Geral de Turismo (Fungetur) operado pela agência de fomento Desenbahia; o segundo foi pelo Pronampe, via Itaú. O Fungetur é um fundo de R$ 5 bilhões voltado para empresas do setor turístico.
De acordo com relatório do Ministério do Turismo, o Fungetur liberou R$ 304 milhões para 1.121 empresas até o fim de junho.
Font: Gazeta do Povo
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