Entidades de saúde nacionais e internacionais reprovam o uso do medicamento para prevenir o novo coronavírus
A secretaria municipal de Saúde de Itajaí, em Santa Catarina, começou nesta semana a distribuir gratuitamente o remédio ivermectina como prevenção para o novo coronavírus. O problema é que não há ainda nenhuma comprovação científica de sua eficácia contra a covid-19.
Em nota, a cidade informa que adquiriu os comprimidos com a intenção de tratar 100 mil pessoas. Para isso, a prefeitura recomenda que moradores que não apresentam sintomas e “têm interesse em fazer o tratamento” podem procurar unidades básicas de saúde para que um médico faça a indicação. O custo para aquisição das doses foi de 1,5 milhão de reais.
O município argumenta que a medida foi baseada em experiências de outras cidades brasileiras e do exterior, mas não cita quais. Informa, ainda, que um estudo na Austrália mostrou que a ivermectina possui “atividade antiviral, em teste em vitro”.
Há, de fato, um artigo recomendando essa medicação, mas em 22 de junho, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgou uma avaliação afirmando que apesar da ivermectina ter sido utilizada com sucesso “in vitro no tratamento do SARS-CoV-2 em células infectadas experimentalmente”, este estudo não foi revisado ou publicado formalmente.
Diante disso, a OPAS concluiu que os estudos sobre ivermectina apresentam “um alto risco de parcialidade, pouca certeza de evidência e que a evidência existente é insuficiente para chegar a uma conclusão de seus benefícios e danos”.
A OMS também optou por retirar a ivermectina do estudo que patrocina e permanece com a indicação de que ainda não há medicamento que cure, previna ou trate a covid-19.
A Food and Drug Administration, agência de saúde dos Estados Unidos, segue igualmente sem indicar a ivermectina: “Enquanto existem usos aprovados para a ivermectina em pessoas e animais, ela não foi autorizada para a prevenção ou tratamento da covid-19”.
Segundo infectologistas consultados pela reportagem, essa medicação está na mesma classificação da cloroquina: não há comprovação científica. A diferença é que os efeitos colaterais da ivermectina são mais brandos aos pacientes.
No fim de junho, a Sociedade Brasileira de Infectologia divulgou uma nota sobre medicamentos que têm sido utilizados contra o novo coronavírus. Nesse documento, a instituição reforça que o “antiparasitário ivermectina parece ter atividade in vitro contra a SARS-CoV-2, porém ainda não há comprovação de eficácia in vivo, isto é, em seres humanos”.
“Muitos dos medicamentos que demonstraram ação antiviral in vitro (no laboratório) não tiveram o mesmo benefício in vivo (em seres humanos). Só estudos clínicos permitirão definir seu benefício e segurança na covid-19”, completa a SBI.
A reportagem tentou entrar em contato com a comunicação de Itajaí, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O espaço está aberto para esclarecimentos.
Fonte: Exame | Por Clara Cerioni
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