O cão foi socorrido por pessoas que estavam em um restaurante no local, e levado a uma clínica veterinária.
Um policial militar atirou contra o cachorro de um flanelinha na Avenida Beira-Rio, em Itajaí, na noite de quinta-feira, 13 de fevereiro. O cão foi socorrido por pessoas que estavam em um restaurante no local, e levado a uma clínica veterinária. O ferimento do animal causou comoção entre os frequentadores da avenida, que é a via gastronômica de Itajaí.
A Polícia Militar informou, em nota, que vai instaurar procedimento na Corregedoria para avaliar a situação. Informou que o policial abordava o flanelinha quando o cão avançou e “chegou próximo a morder”. O comunicado diz que a reação do animal foi “inesperada” e que o policial atirou para “preservar sua integridade física”.
Pessoas que presenciaram a ocorrência, no entanto, contestam a versão:
— O cachorro latiu para o policial, ele sacou a arma e atirou. E saiu batendo no peito, dizendo “atirei mesmo”. Perguntamos se eles não iriam chamar alguém, socorrer o cachorro. Um dos policiais disse, “por que não chamam vocês”? – diz uma mulher que estava em um restaurante e acompanhou o caso.
Diversas testemunhas reclamaram à coluna sobre a reação dos policiais após o cão ter sido atingido.
— A população ficou indignada, gritando com o policial, perguntando como tinha feito isso com o animal. E ele rindo. Quando começou a reunir muita gente, chamaram reforço – diz Stefany Louise.
Sete viaturas atenderam a ocorrência na Beira-Rio. Mas nenhuma delas levou o cachorro para atendimento veterinário.
A PM informou que pediu auxílio da prefeitura de Itajaí para o resgate do cão, mas que “populares o socorrem antes da chegada do profissional”. O protocolo de resgate da prefeitura de Itajaí prevê que sejam atendidos animais em situações como atropelamentos, maus tratos, agressivos ou em estado precário de saúde.
A prefeitura de Itajaí confirmou que o Instituto Cidade Sustentável (ICS) foi acionado pelos policiais, mas que o cachorro não foi localizado quando o resgate chegou ao local.
O dono do animal foi liberado após a revista, porque não havia nada contra ele.
Cachorro é dócil
Pessoas que trabalham e frequentam a Avenida Beira-Rio relataram que o animal é dócil e nunca foi visto atacando ninguém. O animal teria se estressado ao ver os policiais revistando e mexendo nos pertences do dono – uma reação normal para um cão de companhia.
— Um policial de farda, coturno, dizer que um cachorro de rua estava mordendo ele? Atirar em uma avenida onde tem um monte de crianças passando, via cheia? – questionou Stefany.
O local para onde o animal foi levado é mantido em sigilo pelas pessoas que o resgataram, que têm medo de represálias. Ele teria sido ferido na perna, e passa bem. Policiais teriam ameaçado algemar um homem que participou do socorro.
A vereadora Renata Narciso, que é protetora animal, informou, na manhã desta sexta-feira, dia 14, que vai registrar Boletim de Ocorrência e pedir que o caso seja apurado.
Protocolo especial
A advogada Renata Fortes, da Associação Catarinense de Proteção aos Animais (Acapra), diz que é natural que um cachorro lata ou tente morder ao ver o dono em situações que ele reconhece como perigo. E defende um manual de atuação dos policiais para proteger os animais de excessos, especialmente quando se trata de pessoas em situação de rua:
— O animal tem um laço afetivo, e pode ter uma reação. A polícia tem que ter um cuidado especial Se a PM vai fazer abordagens com pessoas em situação de rua, tem que ter um protocolo especial.
Desde 2017, a legislação estadual reconhece cães como seres sencientes e Santa Catarina. A lei reconhece que os animais sentem dor e angústia, e estabelece que esses sentimentos devem ser levados em consideração – o que torna mais graves situações de tratamento cruel.
Nota do 1º Batalhão da PM em Itajaí:
“Sobre o disparo de arma de fogo que atingiu um cão, no bairro Beira Rio, na noite de quinta-feira, 13, a Polícia Militar esclarece que:
1. Os policiais estavam realizando um procedimento de rotina, que é a abordagem a pessoas suspeitas;
2. O homem abordado possui 12 boletins de ocorrência, com passagens por furto, furto em veículo e tentativa de homicídio;
3. A reação do cão a abordagem foi inesperada, de acordo com o relato do policial, ele tentou se desvencilhar do animal andando para trás, mas acabou se desequilibrando momento em que o cão chegou próximo a mordê-lo sendo necessário realizar um disparo com a arma de fogo para preservar sua integridade física;
4. Os policiais acionaram a Prefeitura Municipal para prestar atendimento veterinário ao cão, mas populares o socorrem antes da chegada do profissional;
5. Os fatos narrados e noticiados serão objeto de um procedimento apuratório, a ser realizado pela Corregedoria da Polícia Militar.
Quartel em Itajaí, 14 de fevereiro de 2020″.
Fonte: NSC | Por Dagmara Spautz | Foto: Reprodução
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