Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) comprovam o desequilíbrio na balança quando o assunto é desperdício de comida versus pessoas passando fome. Enquanto um terço de toda a produção de alimentos é desperdiçado diariamente no mundo, estima-se que 821 milhões de cidadãos não têm o que pôr no prato. No Brasil, os números também são alarmantes: 41 mil toneladas de alimentos vão para o lixo todo ano, segundo o Instituto Akatu, ao mesmo tempo em que cinco milhões de brasileiros não têm acesso à comida.
Pode parecer uma realidade distante de Santa Catarina – referência em qualidade de vida -, mas não é. Somente no primeiro semestre deste ano, o Mesa Brasil, um dos principais projetos nacionais de redução de desperdício alimentar, recolheu 177 toneladas de comida que iriam para o lixo no Vale do Itajaí. Isso quer dizer arroz, feijão, pão, carne, fruta em plenas condições de consumo que seriam eliminados pelo fato de fugirem aos padrões buscados pelos consumidores ou estarem próximos da data de validade.
Para que cheguem à mesa de quem precisa, porém, o processo não é fácil. Primeiro porque o volume de produtos eliminados é maior do que os trabalhos desenvolvidos para que o aterro sanitário não seja o fim da linha para os alimentos. Segundo, porque as leis e normas de segurança alimentar são altamente rigorosas quanto à destinação da comida excedente. O próprio Mesa Brasil recolhe apenas o que é mais fácil atender às regulamentações, que envolvem desde a temperatura de refrigeração de cada item até o tempo máximo para consumo após a doação.
– Toda manhã o caminhão sai, coleta esses alimentos nos parceiros e depois faz a entrega às entidades. Cada item é analisado um a um, para verificar as condições de consumo e se não está vencido. Tudo o que é recolhido no dia precisa ser entregue antes de o expediente acabar – explica a nutricionista do Mesa Brasil em Blumenau, Maria Aurenice Rodrigues Josino.
Em síntese, o projeto faz a ponte entre empresas e instituições. Pega o que não será mais vendido por uma e entrega a outra que precisa alimentar pessoas em condição de vulnerabilidade social. Nesse processo, são 84 entidades e quase 11 mil pessoas beneficiadas com o que sai de 43 mercados, indústrias e centros de distribuição do Vale do Itajaí. O trabalho começou há 16 anos em Santa Catarina, e somente em 2018 evitou que 295 toneladas de alimento fossem para o lixo e chegassem aos pratos de quem precisa em 18 cidades nas proximidades de Blumenau.
A prefeitura de Blumenau entrou na luta contra o desperdício em 2014, quando inaugurou um Banco de Alimentos. Funciona na mesma lógica que o Mesa Brasil, mas focado apenas na cidade. Nos primeiros seis meses deste ano, recolheu 94 toneladas de comida e destinou a entidades cadastradas no Conselho Municipal de Assistência Social. Ainda assim, muita coisa se perde. Uma rede de supermercados com unidades em Blumenau e Gaspar disse ao Santa ter jogado fora 20 mil quilos de hortifrúti e 13 mil quilos de itens de padaria em junho. Isso que a empresa abre as portas semanalmente para que a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Blumenau leve o que desejar para o consumo dos alunos.
Fonte: NSC | Por Talita Catie | Foto: Talita Catie
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