Não foi o resultado final que se imaginava. Números ruins registrados em dezembro derrubaram o saldo de criação de empregos em Blumenau ao longo de 2018. No mês passado, foram eliminados 3.449 postos de trabalho com carteira assinada na cidade. Esta é a diferença entre todas as admissões (2.362) e demissões (5.811) feitas no período. Os dados foram divulgados na quarta-feira, 23 de janeiro, pelo Ministério da Economia.
Com o fraco desempenho no fechamento do ano, o saldo, que acumulava 4.469 novas vagas até novembro, encerrou 2018 bem menor, mas ainda no azul: 1.027 empregos foram adicionados à economia local. O resultado, no entanto, é pior do que o de 2017 (+1.286). No balanço final, Blumenau ficou na oitava posição no ranking catarinense (veja abaixo) e na 116ª colocação na relação nacional.
A coluna já havia alertado que os dados do último mês do ano viriam negativos em função principalmente de dois fatores. O primeiro deles: o encerramento de contratos temporários na prefeitura, os chamados ACTs. Celebrados no início do ano, eles inflavam os números totais, mas já se sabia que seriam rescindidos em dezembro. As estatísticas comprovam: a administração pública teve um saldo negativo de 1.232 vagas só neste período. Menos mal que uma boa parte desse contingente deve ser recontratada ao longo de 2019.
O segundo também está relacionado a contratos temporários, mas na indústria. É no fim do ano que muitas empresas fazem demissões pré-férias coletivas ou desligam jovens aprendizes, admitidos meses antes – e que voltarão a preencher essas funções no ano seguinte, formando um ciclo. Mesmo que o saldo negativo fosse esperado em dezembro, o volume (1.475 postos) surpreendeu até mesmo industriais experientes ouvidos pela coluna. Com isso, o segmento fechou 2018 com perda de 294 empregos.
— Na indústria da transformação, o crescimento das vagas vai ser em um movimento mais lento — avalia o vice-presidente regional da Fiesc para o Vale, Ulrich Kuhn, acrescentando que, na recessão, muitas empresas reviram processos, investiram em tecnologias que reduziram a necessidade de mão de obra e, com parte dos parques fabris ociosos, ainda dispõem de espaço para aumentar a produção sem a necessidade de novas contratações.
De positivo, sobrou o bom desempenho do setor de serviços, que criou em todo o ano 1.314 vagas com carteira assinada. A construção civil também deu sinais de reação, com saldo positivo de 216 empregos. Já o comércio eliminou 220 postos na cidade em 2018.
Efeito têxtil
O Caged não destrinchou dados específicos sobre cada um dos grandes setores da economia de Blumenau. A coluna solicitou ao ministério esses números, mas não obteve retorno até o momento. No entanto, informações consolidadas do desempenho de Santa Catarina, que têm esse nível de detalhamento, dão pistas do que pode ter acontecido na cidade do Vale.
Todos os 12 subsetores da indústria catarinense mais demitiram do que contrataram em dezembro, mas em 10 deles o saldo consolidado de 2018 foi positivo. As duas exceções foram os segmentos de calçados (-123 empregos) e, com mais intensidade, o têxtil e de vestuário, este com perda significativa de 4.240 vagas em Santa Catarina no último ano, com potencial reflexo em Blumenau onde a atividade é relevante.
Presidente do sindicato das indústrias têxteis da região (Sintex), o empresário José Altino Comper lembra de alguns fatores que prejudicaram a atividade ao longo de 2018. São os mesmos apontados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) e já destacados pela coluna: greve dos caminhoneiros em maio, queda de consumo durante a Copa do Mundo e inverno curto e menos rigoroso do que se esperava, freando as vendas de roupas quentes. Custos de produção, como a alta no preço do algodão, também atrapalharam.
Em coletiva de imprensa realizada em dezembro, a Abit projetou que o segmento encerraria o ano com perda de 27 mil vagas em todo o país. Foi exatamente o que aconteceu.
Em modo de espera
Em Santa Catarina, foram fechados 15,8 mil empregos na indústria da transformação em dezembro. O volume surpreendeu o coordenador do Observatório Fiesc, Sidnei Rodrigues, porque ficou em patamar semelhante ao verificado no mesmo mês de 2017 (15,1 mil) sendo que os cenários das duas épocas são bem distintos. Naquela ocasião, o Brasil entrava em ano eleitoral, marcado por incertezas. Desta vez, já se sabia quem era o presidente eleito, a economia estava melhor e os níveis de confiança subiram.
O que aconteceu, então? Para Rodrigues, o otimismo verificado pelos industriais está, pelo menos até agora, mais sustentado em perspectivas positivas do que em ações concretas do novo governo. Este fator pode ter pesado na decisão das empresas de não prolongar contratos de trabalho, no aguardo de sinais mais claros sobre o futuro. Ainda assim, ele destaca que os números locais estão acima da média nacional. No total, SC fechou 2018 com 41,9 mil empregos, o terceiro melhor desempenho entre os estados brasileiros. No país, foram 529,5 mil.
O ranking do emprego em SC
Cidades que mais criaram novas vagas em 2018
- 1. Joinville: 9.094
- 2. Florianópolis: 2.643
- 3. Chapecó: 1.652
- 4. Palhoça: 1.446
- 5. Brusque: 1.381
- 6. Itapema: 1.234
- 7. Criciúma: 1.080
- 8. Blumenau: 1.027
- 9. Tijucas: 928
- 10. Videira: 918
O saldo (contratações menos demissões) em Blumenau, por setor, no ano:
- Administração pública: +8
- Agropecuária: +2
- Comércio: -220
- Construção civil: +216
- Extração mineral: +3
- Indústria da transformação: -294
- Serviços: +1.314
- Serviços industriais de utilidade pública: -2
- Total: +1.027
Fonte: Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged)
Fonte: nsc/Por Pedro Machado | Foto: Marco Favero
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